Vencer depois de estar em desvantagem tem um sabor melhor, segundo Pedro Pablo Pichardo, que, em entrevista à agência Lusa, admitiu gostar de arriscar nos concursos do triplo salto.

“A minha equipa não gosta que eu faça isso. Gosta que eu comece logo a fazer um grande salto. Eu gosto de ir aquecendo. Eu gosto de brincar, em competição. Seja quem for o rival, vou começar sempre a brincar, porque gosto de sentir a competição. Gosto de sentir que estou atrás, que tu estás à frente, confiante de que vais ganhar”, explicou.

Talvez por isso, e também pela superioridade face aos rivais, a medalha de ouro olímpica de Tóquio2020, o título mundial em Oregon2022 e o europeu em Munique2022 foram assegurados com as marcas conseguidas na primeira tentativa.

“Quando um atleta de alta competição está à minha frente, ficam contentes, felizes. ‘Ya, vou ganhar-lhe’. Depois, ultrapassar... tem um sabor diferente. Então, a arriscar, que seja assim. Já tenho perdido alguma competição por isso. Deixo para o último, é nulo, e perco. Mesmo assim, gosto”, explicou.

Aos 29 anos, Pichardo vai disputar a qualificação nos Campeonatos da Europa em pista coberta na quinta-feira, tendo em vista a final, marcada para o dia seguinte, na Ataköy Arena, em Istambul, na Turquia.

Apesar de chegar aos Europeus na liderança do ranking e com a segunda melhor marca continental do ano (17,12 metros), só superada pelo cubano naturalizado espanhol Jordan Díaz (17,59), que vai estar ausente, Pichardo rejeita reduzir a competição a apenas dois saltos.

“Mesmo fora, quando vou à Liga Diamante ou Mundiais, a competição que for, depende muito de como anda a competição. Se estiver muito dura, tem de aparecer um terceiro salto. Mas se estou a ver que dá para ganhar, não adianta fazer quatro saltos, seis saltos. O objetivo, nessa competição, era ganhar. Não era procurar um grande salto. Quando o procuramos, aí sim, tentamos fazer os seis”, salientou.

O detentor do cetro europeu ‘indoor’, a sua primeira medalha com as cores lusas, rejeita sofrer por antecipação, bastando-lhe pensar na competição no próprio dia.

“Não penso muito. Não gosto de stressar muito a cabeça com a competição. Só me foco na competição já no autocarro, a caminho da pista de aquecimento. Aí, começo a pensar. Antes, não gosto de stressar muito a cabeça. Digo que o cérebro é tudo, e temos de poupar energia para o que precisamos. Se, antes da competição, já estamos a stressar, que quero fazer assim e... claro que pensar em ganhar é importante, mas não antes. Vinte e quatro, 48 horas antes... é stressar a cabeça. Tenho [no dia da entrevista, antes de um treino] um trabalho um bocadinho forte, um arrasto, e os pesos aí. Estou focado nisso, não no dia 02 ou dia 03. Gosto de levar a vida desportiva mais assim”, admitiu.

Pichardo volta a uma grande competição em pista coberta, depois da última ‘derrota’, nos Mundiais de 2022, em Belgrado, onde não foi além do segundo lugar, reconhecendo que esta não é a sua temporada preferida.

"Não, não sou muito fã da época de inverno. Gosto de me preparar melhor. Normalmente, as minhas épocas acabam ali pelo dia 15 de setembro. Depois, dependendo da época, há uma margem de 20 dias. Quando não gostamos, a preparação é mais longa. Quase nunca estou a 100% na época de inverno. É muito difícil estar a 100%. É por isso que não nos focamos muito. O meu treinador é o meu pai. E o meu pai é cubano. A nossa maneira de trabalhar é a pensar no verão. Nos países latino-americanos, na maioria, não se compete no inverno. Eu sou português, mas o meu treinador ainda é cubano, tem metodologia diferente. Temos trabalho diferente da Europa”, esclareceu.

O processo de treino de Pichardo acaba por ser um assunto familiar, no qual Pedro, por vezes, sente falta de algum estímulo externo.

"Eu gostaria de ter colegas de treino, porque também não é fácil treinar sozinho. É preciso força mental. Não há ninguém que te motive, e há dias mais pesados, ele exige muito. Alguém que ajude um bocadinho", rematou.

Pichardo vai disputar a qualificação do triplo salto, na quinta-feira, a partir das 19:53 locais (16:53 em Lisboa), juntamente com Tiago Luís Pereira, tendo em vista a final, marcada para sexta-feira, às 20:35 (17:35).