Depois de ter conquistado o título mundial de veteranos nos 20 quilómetros, no escalão para mais de 40, em 2018, em Málaga, em Espanha, e europeu, nos 10, em 2020, no Funchal, a marchadora natural de Lourosa, em Santa Maria da Feira, está pela primeira vez entre a elite, e não esconde a surpresa.
“Nunca na vida esperei que fosse possível! Já tinha perdido as esperanças. Tinha andado desde 2010 a tentar nos 20 quilómetros, porque tinha sempre um lote de atletas muito fortes à minha frente, entretanto deixei e comecei a competir em veteranos”, recordou Sandra Silva, em entrevista à agência Lusa.
Os primeiros resultados relevantes entre os mais velhos foram os dois segundos lugares nos Mundiais de veteranos de 2015, nos 10 e 20 quilómetros, seguindo-se, novamente, as ‘pratas’ nos Europeus de 2016, em Monte Gordo, novamente em ambas as distâncias, nos dois casos atrás da lituana Kristina Saltanovic, duas vezes ‘top-10’ em Mundiais absolutos, em Berlim2009 e Daegu2011.
“Andei uns anos a insistir, até conseguir bons resultados. Mas, agora, para absolutos, sinto que é tarde, porque eu trabalho, tenho um trabalho um bocadinho duro, pego às seis da manhã e saio às duas, depois não tenho tempo para treinar, para fazer bidiários, o que consigo fazer é durante a tarde”, explicou a atleta do AC Póvoa de Varzim.
Em março, quando ficou a saber que podia qualificar-se para os Mundiais através do ‘ranking’, pensou: “Isto não está a acontecer comigo”.
Mas estava, e conseguiu manter-se entre o lote de apuradas para a estreia dos 35 quilómetros em Mundiais, juntamente com Inês Henriques, antiga campeã do mundo dos 50 e que soma a sua 10.ª presença, e Vitória Oliveira, em prova marcada para sexta-feira, às 06:15 locais (14:15 em Lisboa).
Vitória Oliveira vai cumprir a estreia com 29 anos, o que faz com que Sandra Silva, que tem uma filha mais velha do que Mariana Machado e Leandro Ramos, os mais velhos da comitiva lusa, se sinta diferente na delegação portuguesa.
“É um bocadinho estranho para mim. Não sei se é por não estar muito integrada, se é por todos eles serem jovens, é muito bom, é diferente para mim, mas também é especial”, reconheceu a marchadora e acabadora de calçado, que está em Eugene com uma licença sem vencimento.
Apesar desse ‘investimento’, Sandra Silva foi contundente: “Nunca na vida deixava passar esta oportunidade”. “Deste sonho não abdicava, porque sei que, provavelmente, esta vai ser a minha última oportunidade, tudo depende da prova de sexta-feira”, reconheceu.
E quanto à prova, a disputar nas imediações do Autzen Stadium, ‘casa’ dos Oregon Ducks, de futebol americano, a lourosense assume o otimismo.
“Eu treinei bastante, apesar de não poder treinar o que os outros treinam, e sei que estou a valer abaixo da marca que me qualificou. Estou confiante e quero entrar na corrida como uma prova normal, sem pensar que estou nos campeonatos do mundo”, assegurou a tetracampeã nacional dos 50 quilómetros marcha, entre 2018 e 2021.
A dedicação às longas distâncias na marcha ocorreu por influência do seu treinador, António Pereira, que foi 11.º nos Jogos Olímpicos Pequim2008, depois de ter sido 15.º nos Mundiais Osaka2007, nos 50.
“Sempre lhe disse que assim que houvesse essa distância para mulheres eu queria participar, ele sempre deu para trás, mas eu insisti e não participei no primeiro ano, mas foi a partir de 2018, quando me sagrei campeã nacional pela primeira vez. Ele sempre foi uma referência para mim e, agora, já me diz para ir sem medo”, referiu.
Tendo como melhor marca nos 35 as 3:19.47 horas alcançadas este ano, em Porto de Mós, Sandra Silva quer “um bom recorde pessoal” e, “quem dera”, poder alimentar o sonho olímpico, numa prova em que é batida na idade pela australiana Kelly Ruddick, que tem 49.
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