O basquetebolista Ivan Almeida congratula-se pelo sucesso deste desporto em Portugal e acredita que ensina aos jovens como o sucesso exige trabalho, tal como aprendeu com o ídolo Michael Jordan, que “internacionalizou” a modalidade.

“Se queres ser um grande jogador, tens de trabalhar e isso já transmite qualquer coisa”, diz o jogador do Sport Lisboa e Benfica (SLB), em entrevista à agência Lusa.

O atleta luso-cabo-verdiano, que joga na federação do país africano, enaltece a mensagem do basquetebol de que, para se ser um grande jogador na vida, é preciso trabalhar e disciplina.

“Às vezes, queremos também sair e ter uma vida normal, mas não podemos”, afirma, recordando os primeiros tempos da sua carreira, quando se levantava bem cedo para treinar, a par do investimento nos estudos, que a mãe não permitia negligenciar.

O basquetebol é “um desporto enriquecedor, não só pelo poder no campo, mas pela disciplina que nos traz”, disse.

E sublinha a importância das camadas mais jovens quererem seguir os seus ídolos, com quem diz ter orgulho em jogar, como Beto Gomes (extremo), Toney Douglas (base) e Aaron Broussard (extremo).

Ivan enaltece o papel dos “ídolos” deste desporto, como os que seguiu quando começou, quando tinha 11 anos, e deu os primeiros passos na cidade da Praia, em Cabo Verde, onde nasceu.

Cresceu a ver e a admirar Michael Jordan, Kobe Bryant, Allen Iverson. Hoje, com 33 anos, continua a eleger Jordan como o maior de todos, principalmente pelo papel na internacionalização deste desporto, sendo quase um sinónimo da modalidade.

“É o meu ídolo, não só dentro do campo. A sua postura, como ele é. Dentro do campo, a sua competitividade, a maneira como jogava, como ganhava os jogos. Mas também a vida que levava fora dos jogos, como falava, como mudou o cenário internacional do basquete. É considerado tipo o Deus do basquete”, diz.

O atleta refere que o basquetebol não se limita ao campo onde é jogado: “É a cultura, a música que ouvimos, a roupa que vestimos”.

E sublinha a liberdade do estilo, que “é livre”, dando o exemplo da música que ouve enquanto treina, sem obedecer a modas, optando hoje em dia pelas músicas que produz, outra das suas paixões e que espera seguir quando abandonar o basquetebol e na qual já trabalha de forma entusiasta.

A morna faz parte do reportório, afirma, orgulhoso, sublinhando a importância da “diva” Cesária Évora, que faz questão de ter estampada na t-shirt que usava durante a entrevista à Lusa.

“Há pessoas que gostam de ouvir ‘rock n’rol’ e outras músicas mais calmas. É um desporto que promete ser aquilo que tu queres ser. Isso é que é bonito no basquetebol. Não tens de ouvir hip hop para ser jogador de basquete”, disse.

E isso aplica-se à forma de vestir. “Há pessoas que chegam de fato, depois vestem o equipamento; outros gostam de vestir mais tranquilo. O basquete permite-te ser aquilo que queres ser na vida”.

No campo, define-se como um lutador, que nunca desiste, com garra.

Recorda quando chegou aos Estados Unidos, aos 18 anos, onde realmente percebeu que queria ser alguma coisa neste desporto e que “estava no caminho certo”.

Mas não sem antes se deparar com “uma realidade completamente diferente”.

“Quando cheguei, tive um choque, um grande choque. Fui jogar na universidade com colegas de 18, 19 anos, americanos, e não conseguia jogar, porque o nível era bastante diferente”, conta, adiantando: “Naquele momento senti-me inútil, que não sabia basquete”.

E acrescenta: “Eles eram mais físicos, eles saltavam mais. Tinham mais leitura de jogo. Era um basquete completamente diferente. Estamos a falar de um primeiro mundo que produz os melhores atletas de basquete”.

Mas foi esse sentimento que o moveu e o fez trabalhar, levantar-se um verão inteiro às 06:00 para ir treinar, para trabalhar mais para ser melhor.

“Um ano e meio depois, quando fui para a minha universidade e estava a jogar com esses mesmos colegas, num jogo oficial, joguei bem. Já jogava normal e senti-me tranquilo dentro do campo com eles”, indica.

De regresso a Portugal, jogou no Sampaense Basket uma meia época e começou “mesmo a jogar” e a mostrar o seu basquete, o que aprendera nos Estados Unidos.

Atleta da Federação Cabo-verdiana de Basquetebol, Ivan Almeida sublinha o “orgulho” que é jogar pela terra onde nasceu.

“Não há palavras que descrever esse sentimento de estar dentro de campo, a representar uma nação”, diz.

O amor à pátria leva-o a estar em contacto quase permanente com familiares e amigos, embora em Portugal tenha praticamente um pouco de tudo para matar as saudades, como a indispensável cachupa.

“Mas o importante mesmo é ir lá à terra e tento ir pelo menos uma vez por ano. É assim que mato saudades”, diz.

E quando chegar a hora de sair de campo, espera abraçar outros projetos, para os quais diz estar totalmente disponível.

Para já, a sua editora continua a ajudar talentos cabo-verdianos e não só, já que a mesma reflete, em muito, o que absorveu das culturas dos países por onde passou.

“A minha produção musical reflete os países onde passei. Junto tudo isso e crio algo criativo, algo com que me identifico”, refere.