Raúl Alarcón (W52-FC Porto) viveu este sábado o seu dia mais especial na Volta a Portugal, ao vencer a primeira etapa da 79.ª edição para vestir de amarelo e consumar definitivamente a sua transformação em candidato à geral.

Imparável esta temporada, o espanhol, que venceu a Volta às Astúrias (à frente de Nairo Quintana), o Grande Prémio Jornal de Notícias e uma etapa no Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela, prolongou o seu estado de graça, aproveitando o calculismo dos outros favoritos para embalar na descida que se seguiu ao Alto da Arrábida e só parar na meta em Setúbal, cidade que premiou a sua valentia e tenacidade com a amarela.

"Está a ser um bom ano e vestir aqui pela primeira vez a camisola amarela da Volta a Portugal é muito especial, já que estou há tantos anos aqui", disse o feliz espanhol que, ainda assim, não se atreve a prolongar o seu sonho: "Nós temos um líder [Gustavo Veloso] e há que respeitá-lo".

Com a liderança de Damien Gaudin (Armée De Terre) a prémio -- o francês aguentou-se até à escalada do Alto da Arrábida, mas acabou por perder 42 segundos para Alarcón -, antevia-se que os 203 quilómetros da primeira etapa em linha iriam ser repletos de emoções, mas nunca assim tanto.

Mal foi dada a partida real, Roy Goldstein (Israel Cycling Academy) e Alexis Carter (H&R Block) lançaram-se em fuga, sendo imediatamente perseguidos (e alcançados) por Hélder Ferreira (Louletano- Hospital de Loulé), Tilljman Eising (Metec-TKH), Patrick Jager (Team Vorarlberg), Gotzon Udondo (Euskadi-Murias) e Adne Van Engelen (Bike AID).

Os sete fugitivos construíram uma vantagem, que chegou a ser superior a cinco minutos, sobre um pelotão comandado por Armée De Terre. Quando a W52-FC Porto assomou à frente, a corrida mudou: a aceleração dos 'dragões' dividiu o grupo em duas metades e condenou as aspirações dos homens da frente.

Seria essa a primeira cisão do pelotão, que se uniu ao quilómetro 70, para voltar a separar-se no fim do abastecimento apeado, já depois de Carter voltar a tentar isolar-se, na companhia de Pello Olaberria (Euskadi-Murias). Numa sucessão vertiginosa de acontecimentos, a equipa portista, que foi surpreendida por uma aceleração da Efapel, trabalhou para colar as peças do grupo e, consequentemente, voltou a anular a fuga, que foi retomada por Udondo.

O basco da Euskadi-Murias foi o mais bem-sucedido dos aventureiros da jornada, pedalando isolado até ao início da subida da primeira das duas contagens de terceira categoria da tirada, no Alto das Necessidades. Já no Alto da Arrábida, uma sequência de ataques-resposta entre os favoritos eixou um punhado de corredores na dianteira, com Alejandro Marque (Sporting-Tavira), terceiro à partida a apenas três segundos da amarela, a puxar na frente.

A falta de colaboração dos homens que seguiam na sua roda, nomeadamente Amaro Antunes (W52-FC Porto), Rui Sousa (RP-Boavista) e Sérgio Paulinho (Efapel), irritou o galego, que parou. Enquanto o vencedor da Volta 2013 reclamava, Alarcón, vindo de trás, recebeu um qualquer gesto de autorização para arrancar e lá foi, descida abaixo, como tanto gosta, rumo à amarela da Volta a Portugal.

No jogo do gato e do rato, o alicantino, de 31 anos, pareceu, várias vezes, prestes a ser 'caçado', mas tomou um novo fôlego num troço a descer, para vencer a primeira etapa, a sua segunda na Volta a Portugal (a outra foi em Gouveia, em 2013), com o tempo de 04:55.57 horas.

Atrás do possante espanhol, chegou o seu companheiro Antunes, com David de la Fuente (Louletano-Hospital de Loulé) a ser terceiro. No mesmo grupo, que cortou a meta a 11 segundos, estavam Vicente García de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé), Nocentini, Veloso, Marque, Paulinho e Rui Sousa, com Edgar Pinto a ser o único líder a falhar o 'cut' -- gastou mais 42 segundos do que o vencedor.

Graças às bonificações amealhadas com a vitória, Alarcón subiu à liderança da geral e vai partir para a segunda etapa, uma ligação de 214,7 quilómetros entre Reguengos de Monsaraz e Castelo Branco, com Marque a seis segundos e Domingos Gonçalves (RP-Boavista) a 15. Seguem-se todos os favoritos, separados por escassos segundos, até a um máximo dos 29 de García de Mateos, o nono da geral.