Alberto Contador mostrou hoje que até o melhor ciclista do pelotão pode falhar, mas, no final da 20.ª etapa, ganha por Fabio Aru, pode finalmente festejar, porque domingo, em Milão, será ele o vencedor da Volta a Itália.

"Foi um dia realmente duro. A subida a Finestre foi complicadíssima e a Astana esteve incrível, mas sabia que a diferença na geral era ampla. Tinha de manter a calma e seguir ao meu ritmo”, confessou o espanhol da Tinkoff-Saxo, que teve um desfalecimento na duríssima subida e viu como os Astana Fabio Aru, que festejou o seu segundo triunfo consecutivo, e Mikel Landa se aproximaram perigosamente na geral.

Hoje, Contador vai festejar com um bom jantar, porque “o Giro está no bolso”, depois de um susto que o fez perder 02.25 minutos para Aru, que será segundo em Milão a 02.02 minutos, e 02.01 minutos para Landa, que ocupará o terceiro degrau do pódio, a 03.14 minutos.

Esperava-se que o monumental Finestre, uma terrível subida de 18,5 quilómetros, parcialmente em terra batida, despertasse os últimos resquícios de força dos homens que sucediam a Contador na geral e os prognósticos confirmaram-se, quando um Mikel Landa de orgulho ferido atacou a 32 quilómetros da meta, no troço de terra batida.

Alerta, Contador respondeu, mas as forças falharam-lhe e Landa partiu a solo à procura de Ilnur Zakarin (Katusha), o último dos resistentes da fuga do dia, formada logo nos primeiros 30 quilómetros dos 199 quilómetros entre Saint-Vicent e Sestriere.

O basco, que na véspera acusou o camisola rosa de tentar criar o caos na Astana, assumiu ele próprio o papel de agitador da sua equipa, ‘obrigando’ Aru a aguardar – o filme da véspera repetiu-se, mas os papéis inverteram-se, com Landa a atacar o segundo lugar do seu colega italiano.

Três quilómetros depois, Ryder Hesjedal (Cannondale-Garmin) atacou e, pela primeira vez esta semana, ‘ El Pistolero’ ficou parado, completamente parado. Desamparado, sem apoio dos seus companheiros de equipa, o espanhol rapidamente perdeu 30 segundos para o grupo no qual seguia Aru, uma desvantagem que foi crescendo, crescendo à medida que, lá à frente, se fazia a junção de perseguidos e perseguidores.

Sem conseguirem chegar a um entendimento, Zakarin e Landa acabaram alcançados por Aru, Hesjedal, Rigoberto Uran (Etixx-Quickstep) e Steven Kruijswijk (LottoNL-Jumbo), com o sexteto a lutar entre si pelo triunfo na 20.ª etapa. Impulsionado pela vitória da véspera e por um azar mecânico de Zakarin, o líder da juventude foi à procura da sua segunda etapa, a quinta da Astana, saindo do grupo a dois quilómetros de Sestriere.

Em êxtase e sob o olhar atento da sua namorada, Aru cortou a meta com o tempo de 05:12.25 horas, sem ver que o pódio da etapa de sexta-feira se repetiu escrupulosamente. Tal como em Cervinia, Hesjedal foi segundo, a 18 segundos, e Uran terceiro, a 24, com Landa a surgir atrás de si, com o mesmo tempo.

Com o coração acelerado, os fãs de Contador tiveram de esperar 02.02 minutos para ver o líder da Tinkoff-Saxo completar a tirada e garantir um triunfo que só um mal maior, como uma queda, pode impedir. Descontente, mas aliviado o madrileno de 32 anos fechou a camisola rosa, ergueu-se na bicicleta, antes de erguer discretamente o punho.

Estava conquistado o seu segundo Giro (na realidade, venceu três vezes a Volta a Itália, mas perdeu a de 2011 na secretaria devido a um positivo por clembuterol no Tour 2010) e a sua sétima grande Volta. Agora, o espanhol tem 185 quilómetros entre Turim e Milão para disfrutar de uma ‘maglia rosa’ que tanto quis conquistar, mas que fica, uma vez mais, incompleta, sem qualquer vitória de etapa.

André Cardoso ficou à porta do ‘top20’ deste Giro, ao ser novamente 21.º na etapa, a 07.37 minutos de Aru. O português da Cannondale-Garmin ficou exatamente a dois minutos do 20.º lugar de Carlos Betancur (AG2R-La Mondiale), sendo 21.º a 01:19.15 horas de Contador.

Sérgio Paulinho chegou a 33.59 minutos de Aru e está no 97.º lugar da geral, a 04:31.44 horas do seu líder, com Fábio Silvestre (Trek), que hoje foi 160.º a 04.01 minutos, a fechar a geral dos portugueses, na 150.ª posição, a 05:54.01 horas do camisola rosa.