O ciclista francês Romain Bardet, segundo na Volta a França em 2016 e terceiro em 2017, mostrou-se hoje cauteloso sobre a euforia inicial vivida após o adiamento da prova francesa, vincando que ninguém sabe se esta se realizará.

“O anúncio do adiamento do Tour foi uma luz ao fundo do túnel! […] Depois, a euforia das primeiras 48 horas deu lugar a uma pequena incerteza. A prudência ‘sequestrou-me’. […] Sabemos que Christian Prudhomme [o diretor do Tour] se recusa a uma corrida ‘á porta fechada’ – e essa é uma ótima decisão -, mas, de agora a setembro, não vislumbramos o aparecimento de um tratamento médico miraculoso [para a covid-19]”, escreveu o corredor da AG2R nas páginas do jornal francês Le Monde.

No seu longo texto, Bardet recordou que será necessário respeitar “medidas muito, muito rigorosas” e questionou se estas serão “compatíveis com um evento como a Volta a França”.

“Isso moderou um pouco o meu entusiasmo. Todas as questões quanto às medidas práticas não foram colocadas. Ninguém poderá dizer se as condições [para que a prova se dispute] estarão reunidas”, sustentou.

O francês, que tinha renunciado ao Tour nas suas datas iniciais (de 27 de junho a 19 de julho), mas deverá estar à partida da ‘Grande Boucle’ em 29 de agosto, caso esta se realize, lembrou que os encontros de futebol “correm o risco” de ser disputados à porta fechada, pelo menos, até 2021, e que os epidemiologistas defendem que a única forma de os grandes eventos desportivos decorrerem será sem público.

“Quando vemos a grandeza do Tour, tenho dificuldade em pensar que um participante nunca esteja em contacto com um portador do vírus. Vamos propagar o vírus em todo o território, durante três semanas, sem necessariamente termos conhecimento disso?”, interrogou.

O vice-campeão da edição de 2016 do Tour notou que “o pelotão é um ninho potencial de contaminação” e admitiu que seria impossível “respeitar todas as precauções”.

“Sinto, assim, o entusiasmo do desportista e o realismo do cidadão. Alterno entre os dois. Ao dias após o anúncio do [adiamento] do Tour foram eufóricos. Para o desportistas, o simples facto de fazer planeamento, de discutir o regresso à estrada com a equipa, deu sentido aos treinos em casa, que são maçadores. É importante manter esse estado de espírito. Temos todo o interesse em agir como se as provas se fossem realizar, mesmo sabendo que não é 100% garantido”, analisou.

Na passada quarta-feira, a União Ciclista Internacional anunciou que a Volta a França, originalmente agendada entre 27 de junho e 19 de julho, vai decorrer entre 29 de agosto e 20 de setembro, confirmando ainda que a Volta a Itália e a Volta a Espanha irão acontecer depois dos Mundiais, agendados entre 20 e 27 de setembro.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 170 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 558 mil doentes foram considerados curados.

Em França, morreram 20.265 das mais de 155 mil pessoas registadas como infetadas.