Stephen Cummings (Dimension Data) escapou hoje aos companheiros de fuga e à queda do insuflável que travou os favoritos para vencer a sétima etapa da Volta a França em bicicleta e conquistar o segundo triunfo em edições consecutivas.

O veterano britânico inspirou-se no vídeo da vitória do ano passado e hoje deixou para trás os 28 companheiros de fuga, incluindo o agora mais ‘amarelo’ Greg Van Avermaet (BMC), escapando para o triunfo em Lac de Payolle, mesmo a tempo de evitar a queda do pórtico que assinala o último quilómetro.

“Na subida [Col d’Aspin], estava morto. Pensei que o Vincenzo [Nibali] ia recolar. Questionei-me se não seria melhor esperar por ele para batê-lo ao ‘sprint’. Foi horrível. Estava inquieto, pensava se ele me iria ultrapassar ao estilo do Marco Pantani. Mas mantive-me fiel à opção de ir a fundo, sozinho, até ao fim”, assumiu o ciclista da Dimension data, primeiro com o tempo de 03:48.09 horas.

Mas a inquietação de Cummings, que venceu no alto do Malhão (Algarve) em 2011, era desnecessária: nem o italiano da Astana, quarto a 01.58 minutos, nem o sul-africano Daryl Impey (Orica-BikeExchange) e o espanhol Daniel Navarro (Cofidis), respetivamente segundo e terceiro a 01.04, conseguiram alcançá-lo.

“No ano passado, ganhei uma etapa e foi um sonho, mas depois tive a impressão de estar um pouco perdido. Estabeleci como objetivo voltar a ganhar. Não sou um dos corredores mais confiantes, por isso revi o vídeo de Mende [onde triunfou] para ganhar confiança”, revelou.

Depois de dias perfeitamente apáticos, a Volta a França despertou hoje da dormência em grande estilo, com uma fuga de 29 homens, encabeçada pela camisola amarela Greg Van Avermaet.

O belga da BMC sabia que, no seu caso particular, a melhor defesa seria o ataque, por isso, ao quilómetro 50 dos 162,5 que ligaram L'Isle-Jourdain a Lac de Payolle, juntou-se a nomes grandes do pelotão como Nibali, Impey, Fabian Cancellara (Trek-Segafredo), Tony Martin (Etixx-QuickStep), Sylvain Chavanel (Direct Energie) e Jan Bakelants (AG2R), todos eles antigos camisolas amarelas do Tour.

A qualidade da composição do grupo, que rapidamente ganhou uma vantagem próxima dos seis minutos, indiciou, de imediato, a possibilidade da fuga ser bem-sucedida. O bom entendimento entre os 29 terminou na subida para Côte de Capvern, a uns 50 quilómetros da meta, com Matti Breschel (Cannondale), Antoine Duchesne (Direct Énergie), Navarro e Cummings a ficarem isolados na frente.

O quarteto foi sol de pouca dura. Vindos de trás, Nibali, Impey, Van Avermaet, Paul Martens (LottoNL – Jumbo), Alexey Lutsenko (Astana), Alex Howes (Cannondale), Simon Geschke (Giant-Alpecin) e Pierre-Luc Périchon (Fortuneo-Vital Concept) fizeram a junção, antes de Cummings dar um esticão para se isolar na frente.

À entrada do Col d’Aspin, uma das contagens de primeira categoria mais emblemáticas da Volta a França, Cummings seguia a solo, enquanto no pelotão, mais de quatro minutos atrasado, a FDJ assumiu a perseguição, por troca com a Movistar.

A estratégia da equipa francesa foi um verdadeiro erro de cálculo, já que, pouco depois, graças a um safanão dado por Warren Barguil (Giant-Alpecin) no grupo de favoritos, o seu líder Thibaut Pinot ficou em dificuldades – haveria de perder quase três minutos na meta em relação aos outros candidatos e está virtualmente fora da corrida pelo pódio.

Quando em Lac de Payolle, o veterano britânico, de 35 anos, festejava abraçado à ‘entourage’ da Dimension Data, que já leva quatro etapas em sete possíveis, e o camisola amarela se mantinha no elástico – foi quinto, a 02.57 minutos do vencedor -, o mini-pelotão deparou-se com algo nunca visto em 103.ª edições da Volta a França: a queda da ‘flamme rouge’, diante dos seus olhos (no caso do britânico Adam Yates, chefe de fila da Orica-BikeExchange, foi mesmo em cima da cabeça).

Atarantados, Chris Froome (Sky), o vigente campeão, e companhia tentaram esquivar o insuflável caído como puderam, para retomar o mais rápido possível a marcha.

O incidente, que deixou os candidatos à geral a protestar, obrigou a uma pronta intervenção da organização, que decidiu fechar a contagem de tempos a três quilómetros da meta.

A tentativa de minimizar os estragos provocou alterações na classificação geral, com Yates a subir ao segundo lugar por troca com o francês Julian Alaphilippe (Etixx-QuickStep), agora terceiro a 05.51 minutos. O britânico da Orica-BikeExchange está a 05.50 minutos da amarela de Van Avermaet.

Entre os portugueses, a jornada não correu pelo melhor: Rui Costa (Lampre-Merida), que tentou andar em fuga, perdeu 17.25 minutos e caiu para a 69.ª posição, a 28.23 do belga, e Nelson Oliveira, que chegou a 20.09, baixou ao 170. lugar, a 51.56.