Edgar Pinto esqueceu hoje uma carreira de azares, deixando a garra falar mais alto do que a dor para vencer no alto da Senhora da Graça, na quarta etapa da 76.ª Volta a Portugal em bicicleta.
O dia do agora incontestado líder da LA-Antarte, que caiu a descer para o autocarro da equipa depois da chegada de sábado ao Larouco, foi de extremos: se de manhã se apresentou na partida em Boticas a pedalar com dificuldade, com um inchaço proeminente na coxa esquerda e uma máscara de dor, à tarde mostrou fazer da fraqueza força para vencer no alto da Senhora da Graça, mesmo à frente do camisola amarela, o espanhol Gustavo Veloso (OFM-Quinta da Lixa).
"Dormi mal hoje, devido às dores. Passei um mau bocado no início da etapa, tive de trocar de bicicleta, porque tive uma avaria - parti um cabo de mudança. Fui uma vez ao médico por aquele ‘spray’ milagroso por causa das dores. Depois, ao longo da etapa, foi aquecendo o músculo e foi-me passando, começaram a doer-me mais as pernas e fui esquecendo a ferida", descreveu.
O ciclista de Albergaria-a-Velha voltou a sofrer, ao longo da quarta etapa, os famosos azares pelos quais é conhecido, mas não deixou que o infortúnio o perturbasse, arrancando a 400 metros da meta, mesmo sem saber como se iria sentir. "Arrisquei e acabou por dar resultado”, congratulou-se.
Dizem os ciclistas que quem faz a dureza das corridas são eles e não as montanhas e hoje, 5,5 quilómetros depois da partida em Boticas, a teoria comprovou-se, quando um grupo de 30 ciclistas, nos quais estavam nomes maiores como Delio Fernández (OFM-Quinta da Lixa), César Fonte (Rádio Popular-Onda), Hugo Sabido e o camisola da montanha António Carvalho, ambos da LA-Antarte, ou João Pereira (Banco Bic-Carmim), saltou do pelotão.
Obviamente, a tentativa, que conseguiu pouco mais de um minuto, foi anulada 40 quilómetros depois, deixando o estatuto de aventureiros da jornada para 11 homens, que ficaram na frente de corrida logo depois.
Alberto Galego e Ricardo Vale (Rádio Popular-Onda), Carvalho e Pereira, os dois grandes rivais na luta pela montanha, Filipe Cardoso (Efapel-Glassdrive), Angel Madrazo (Caja Rural), Albert Torres (Team Ecuador), Juan Oroz e Moisés Dueñas (Burgos-BH), Jose Vicente (Team Ukyo) e Daniel Dominguez (Christina Watches-Kuma) enfrentaram, em modo fuga, as dificuldades escondidas nos 192,5 quilómetros até ao topo da Senhora da Graça.
Com mais de cinco minutos de vantagem para gerir, o grupo dos 11 passou na frente no alto do Alvão, a primeira contagem de primeira categoria da tirada - a outra estava na meta -, e, já numa versão mais reduzida chegou ao sopé do Monte Farinha. Quando os 9,3 quilómetros até ao alto começaram, a fuga foi perdendo peças, com Carvalho, o super combativo da quarta etapa, a ser o último resistente, enquanto no pelotão os favoritos se perfilavam.
O anterior camisola amarela Victor de la Parte foi o primeiro a testar os adversários, concluindo o intenso trabalho de desgaste feito pela Efapel-Glassdrive com um ataque logo no início da subida. Na resposta, saiu, novamente, David Belda (Burgos-BH), o vencedor da véspera, com os dois a juntarem-se ao camisola azul e a serem, posteriormente, acompanhados por Sandro Pinto (Louletano-Dunas Douradas).
O quarteto sobreviveu até onde a luta entre os favoritos deixou. Nela, só Veloso esteve à altura do ataque de Pinto, que subiu ao segundo posto da geral, a 26 segundos do dorsal número 1.
Para todos os outros, foi dia de perdas, menos no caso de Luis Léon Sánchez (Caja Rural), uma seríssima ameaça às pretensões nacionais, e Ricardo Mestre (Efapel-Glassdrive), agora quarto, um lugar abaixo do espanhol, mais no caso de Hêrnani Broco (Louletano-Dunas Douradas) e Rui Sousa (Rádio Popular-Onda), já a um minuto de Veloso.
Na segunda-feira completa-se o quarteto montanhoso da primeira metade da 76.ª Volta a Portugal, na quinta-etapa, que liga Alvarenga, em Arouca, ao alto da Senhora da Assunção, em Santo Tirso, num total de 161,3 quilómetros.
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