Iúri Leitão já ganhou o início da temporada, após ter conquistado dois títulos europeus na pista, mas o seu estatuto na Caja Rural alterou-se essencialmente pela consistência que apresenta na estrada, acredita o ciclista português.

“Não vou dizer que [o estatuto] mudou por causa do título olímpico, eu acho que muda essencialmente pela consistência que tenho vindo a ter na equipa nas corridas de estrada, porque, parecendo que não, não tem nada a ver uma coisa com a outra e a equipa exige de mim resultados na estrada. É isso que eles querem”, elucidou.

E, de facto, o vianense de 26 anos tem ‘apresentado’ triunfos para que na Caja Rural o “respeitem um pouco mais” e o tenham “em conta de outra forma”, nomeadamente no Troféu Palma, uma das ‘etapas’ do Challenge de Maiorca, no início deste mês.

Em entrevista à agência Lusa, durante a 51.ª Volta ao Algarve, Iúri Leitão defendeu que, apesar desse triunfo maiorquino e dos títulos europeus de scratch e na prova por pontos, ainda só ganhou “o início” de uma temporada na qual gostaria de estrear-se na Volta a Espanha – a presença da equipa depende de um convite da organização.

“O corpo tem reagido bem. Agora, é tentar não abusar talvez, aproveitar o máximo do calendário do início da época até ter uma primeira pausa e, depois, preparar a segunda fase da temporada. Temos agora provas importantes a seguir à Volta ao Algarve e quero tentar manter a forma o maior tempo possível”, assumiu.

Para trás, ficaram os festejos pelo ouro conquistado em Paris2024 ao lado de Rui Oliveira no madison, mas também pela prata alcançada no omnium, o que o tornou no primeiro desportista português a somar duas medalhas na mesma edição dos Jogos Olímpicos.

“Chegou um ponto em que eu decidi que tinha que voltar ao trabalho e que essa vida de televisão e de rádio e de espetáculos tinha que ter uma pausa, por mais que eu gostasse bastante. E há que voltar ao trabalho, volta tudo a normal, voltam as competições, volta tudo ao que era”, brincou.

No entanto, nem tudo voltou a ser como era antes, a começar pelo interesse que o ciclismo de pista desperta agora nos portugueses.

“Nem toda a gente ainda entende exatamente o que é que está a acontecer, por mais que os comentadores tenham feito um bom trabalho de explicar. Às vezes, as pessoas querem uma explicação mais detalhada e costuma acontecer” pedirem-lhe para esclarecer dúvidas sobre a vertente que o tornou conhecido, admite.

Leitão sentiu já nestes Europeus que havia “muito mais pessoas preocupadas em ver” e acompanhar as provas dos portugueses, que regressaram do velódromo de Heusden-Zolder, na Bélgica com seis medalhas.

O ciclista da Caja Rural garante, contudo, não se sentir uma ‘estrela’, apesar de, na ‘Algarvia’, ter sido amplamente solicitado pelo público, a quem nunca negou uma foto, um autógrafo ou simplesmente um sorriso.

“As pessoas vão-me reconhecendo, os meus colegas vão-me reconhecendo e querem trocar umas palavras. Mas isso sempre foi muito assim, mesmo quando eu corri em Portugal. Aqui em Portugal temos uma comunidade de atletas muito unida, digamos assim, somos todos muito companheiros uns dos outros e recebo sempre muito carinho quando volto a Portugal”, revelou à Lusa.

Com a bicicleta equipada com umas rodas douradas, numa alusão ao título olímpico conquistado em Paris2024, Leitão não passa despercebido nas estradas nacionais, num mediatismo agora explorado pela Caja Rural.

“Tendo em conta que eu levo a marca da equipa a esse tipo de palcos, eu acho que seria tonto da parte deles não aproveitar essa imagem, porque, lá está, até um atleta olímpico que faz resultados do nível que eu tenho feito, é sempre bom para a marca da equipa poder aproveitar essa alavancagem”, notou.