José Azevedo defendeu que é preciso enaltecer o feito de João Almeida, que hoje conquistou um inédito pódio no Giro para Portugal, sem querer criar já a expectativa de que o ciclista português pode vencer uma grande Volta.

“É um feito só ao alcance de um lote muito reduzido de ciclistas. Estamos a falar no pódio numa grande Volta, [algo] que, se formos a ver, só corredores de muito talento, de grande potencial é que conseguem atingir”, começou por destacar o antigo ciclista e atual diretor da equipa portuguesa Efapel, em declarações à agência Lusa.

Antes de João Almeida (UAE Emirates) ‘aparecer’, José Azevedo tinha sido o corredor nacional a ficar mais perto do pódio da Volta a Itália, com o quinto lugar na edição de 2001, posição que o vencedor da classificação da juventude desta edição da ‘corsa rosa’ já havia melhorado em 2020 (foi quarto).

“Foi sempre um corredor que, desde as camadas jovens, esteve ao nível dos melhores. Quando passou a profissional, logo no primeiro ano, fez uma grande Volta a Itália e, a partir daí, criou essas expectativas de confirmação e de melhorar ainda esse top 5 que ele fez logo no primeiro ano. E tem vindo a demonstrar o seu valor e este é mais um passo que ele dá na sua carreira, um excelente resultado que junta ao seu palmarés. Acho que ele está satisfeito e deve ficar orgulhoso, porque é daqueles resultados que ficam para a história”, salientou Azevedo.

O agora diretor desportivo defende que Almeida só perdeu para dois grandes corredores, o esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), tricampeão da Vuelta, que hoje subiu ao pódio para envergar a ‘maglia rosa’ final, e o britânico Geraint Thomas (INEOS), campeão do Tour2018, que foi segundo a 14 segundos do vencedor.

“Uma corrida de três semanas nunca se ganha com sorte, ganha-se com valor, ganha-se na estrada e ganha sempre o mais forte. E os dois que ficaram à frente do João, eu acho que são dois ciclistas que, para além de terem sido mais fortes - temos que reconhecer isso -, […] estão no topo daqueles seis, sete melhores ciclistas mundiais da atualidade”, notou, lembrando ainda que ambos têm “um palmarés melhor” do que o jovem de A-dos-Francos.

Assim, para José Azevedo, “em momento algum se pode falar em desilusão”, devendo, sim, enaltecer-se “o feito” de Almeida, até porque “só quem é mesmo muito, muito, muito bom é que consegue fazer pódio numa grande Volta”.

“Se o João vai continuar a evoluir para ganhar uma grande Volta, isso o futuro dirá. Logicamente que ele vai ter isso na cabeça…”, disse, ressalvando, contudo, que “as pessoas têm de ser corretas nas análises que fazem e corretas para com o João”.

Para o antigo ciclista de 49 anos, que foi também quinto classificado no Tour2004, “não podemos estar a querer colocar o João ao nível de um [Jonas] Vingegaard ou de um [Tadej] Pogacar”, os últimos vencedores da Volta a França.

“Não podemos estar a querer pedir ao João, a criar essa expectativa que o João vai já ganhar uma grande Volta, porque fez terceiro. E eu não tenho dúvidas que o João quer isso, se vai conseguir ou não, não sei. Que eu acho que ele vai trabalhar com esse objetivo, eu acho que sim. O tempo vai dizer se ele consegue chegar lá ou não, mas eu acho que é injusto estar já a querer-lhe pedir isso”, sustentou.

Azevedo acredita que “o justo, neste momento, é valorizar aquilo” que o jovem de 24 anos fez, porque não há “muitos corredores em Portugal que o tenham conseguido”.

“Tirando o [Joaquim] Agostinho, foi o João. E eu acho que é isso que a gente tem que, neste momento, enaltecer, elogiar o que ele conseguiu e não estar já a querer criar uma expectativa, que, se calhar, é muito injusta neste momento, que não sabemos se ele vai lá chegar, mas que eu não tenho dúvida que é o objetivo dele, não é? Mas, agora, se não chegar, também não é falhanço nenhum. Ou seja, se o João fizer muitas vezes terceiro, eu acho que é sempre excelente, quem dera a muitos conseguir estar sempre no pódio”, concluiu.

Almeida, que também conquistou a classificação da juventude, é o primeiro português a ‘fechar’ o Giro no pódio e o segundo corredor luso a ficar entre os três melhores de uma grande Volta, depois de Joaquim Agostinho ter sido terceiro nas edições de 1978 e 1979 da Volta a França e segundo na Vuelta1974.