Istvan Varjas, o engenheiro húngaro considerado o cérebro da invenção do doping mecânico, sugeriu esta sexta-feira que a última versão de motores ocultos pode dar a um ciclista uma vantagem de 15 segundos sobre os rivais.
Em entrevista ao diário francês Le Monde, citada pelo site especializado Cyclingnews, Varjas revelou que uma grande investigação televisiva pode apresentar, em breve, mais detalhes sobre o doping mecânico ou “fraude tecnológica”, como é apelidada pela União Ciclista Internacional (UCI).
De acordo com o engenheiro húngaro, a investigação poderá ser emitida em janeiro, com o diário francês a arriscar que as novas revelações podem causar um ‘terramoto’ tão grande como o ‘affaire’ Festina, o primeiro caso conhecido de um esquema de dopagem organizado, que ‘parou’ a Volta a França de 1998.
“Não fui pago por aquilo que fiz, pagaram-me para não fazê-lo para os outros. Para saber quem usa motor, é preciso olhar para a cadência. Os pequenos motores trabalham melhor com uma cadência de pedalada maior”, explicou.
Varjas defendeu que a UCI obstruiu o trabalho da polícia durante a última edição da Volta a França para evitar que descobrissem “batoteiros” e mostrou-se cético quanto aos métodos utilizados pela federação internacional para detetar possíveis campos magnéticos e motores ocultos, sugerindo uma solução.
“Simplesmente, pesa-se a roda traseira: se houver motor, a roda pesa, pelo menos, 800 gramas mais do que o peso normal. Se a roda pesar dois quilos, deve ser desmontada”, indicou.
O húngaro explicou ainda que os motores ocultos nas bicicletas podem ser ativados desde um carro de apoio através de tecnologia Bluetooth, por controlo remoto ou através de um relógio.
“Pode controlar-se desde o carro da equipa e o corredor nem ter consciência de que tem um motor. Poderá sentir que está a ter um bom dia. O modelo está desenhado para altas velocidades, para os contrarrelógios”, sublinhou Varjas.
O engenheiro contou ainda que o ex-treinador de Lance Armstrong, o médico Michele Ferrari, o visitou há três anos para conhecer a tecnologia e as implicações do doping mecânico.
De acordo com Varjas, Ferrari estava preocupada pelo seu futuro, uma vez que a fraude tecnológica poderia substituir os métodos de dopagem fisiológicos para melhorar o rendimento.
A presença dos motores nas provas velocipédicas detetou-se pela primeira vez no Campeonato do Mundo de ciclocrosse no início de 2016, na bicicleta da ciclista belga sub-23 Femke Van den Driessche.
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