A Federação Portuguesa de Cicloturismo recordou hoje como Mário Soares pediu para ser sócio daquela instituição, depois de uma presidência aberta em 1994 e durante a qual pedalou, com quase 70 anos, mais de 10 quilómetros por Sintra.

“O homem era uma força da natureza”, lembra José Manuel Caetano, presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB), recordando o dia em que foi chamado a Belém pelo ex-Presidente da República que, no âmbito da presidência aberta dedicada ao ambiente, lhe pediu ajuda para preparar um passeio de bicicleta por Sintra.

Antes, recorda, “Mário Soares sempre foi utilizador de bicicleta”, desde os tempos em que “ia para a praia para a Foz do Arelho” e ali pedalava.

O dia da presidência aberta por Sintra chegou, em abril de 1994, e Mário Soares, “com quase 70 anos”, acabaria por pedalar 10 quilómetros, vestido de fato de treino e acompanhado por mais de dois mil ciclistas.

“A certa altura o grosso da coluna divide-se. Uns vão para a esquerda. Outros para a direita e às tantas andava tudo maluco à procura dele”, lembra José Manuel Caetano, que assim caracteriza a “rebeldia” de Mário Soares.

No final da presidência aberta, o presidente da federação voltou a ser chamado a Belém por Mário Soares que então lhe disse: “é minha obrigação, dado o trabalho que vocês tiveram, ser sócio dessa instituição”.

“Pediu para enviar para Belém uma ficha de inscrição”, recorda o responsável da federação que depois decidiu torná-lo sócio honorário.

A agenda do Presidente da República não permitia grandes passeios, mas “não estava estático”, relata José Manuel Caetano, que chegou a ir com amigos até Belém para “andar de bicicleta” com Mário Soares.

“Mais tarde, demos-lhe o prémio nacional de mobilidade em bicicleta”, recorda.

O galardão foi atribuído pela FPCUB Mário Soares em 2008 pela utilização e promoção da utilização da bicicleta ao longo da sua carreira política, nomeadamente no período durante o qual foi Presidente da República.

Mário Soares morreu no sábado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde esteve internado 26 dias, desde 13 de dezembro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.

O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 13:00 de segunda-feira, e o funeral de Estado realiza-se a partir das 15:30 de terça-feira, para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.

Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.

Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.