O ciclista português António Morgado mostrou-se hoje orgulhoso por ser o novo vice-campeão mundial de juniores, mas assumido ter ficado “um pouco frustrado” por sentir que estava “nas melhores condições” para levar a camisola arco-íris para casa.
“É um orgulho [ser vice-campeão mundial]. Isto foi o recompensar de um trabalho feito a época toda. Claro que estou um pouco frustrado, estive perto de ser campeão do mundo, mas tenho tempo para conseguir isso”, resumiu o jovem português, numa improvisada conferência de imprensa virtual a partir de Wollongong, na Austrália, onde até domingo decorrem os Mundiais de ciclismo de estrada.
Um dos grandes favoritos ao ouro, António Morgado foi o protagonista da corrida de fundo de juniores, atacando diversas vezes durante os 135,6 quilómetros da prova, mas foi batido no ‘sprint’ final pelo alemão Emil Herzog, o novo dono da camisola arco-íris.
“Não foi fácil. Naqueles momentos a seguir à corrida, tive ali um impacto um bocado negativo, pois trabalhei o ano todo para tentar conseguir [o título mundial]. Estava nas melhores condições, tinha tudo à minha frente e não consegui levar o título para casa”, lamentou, dizendo-se, no entanto, “satisfeito e feliz” com o que fez.
Após uma jornada de ataques, e com a meteorologia do seu lado, o jovem português, que adora “correr com chuva e frio”, destacou-se a 18 quilómetros da meta, entrando isolado na última volta ao circuito de Wollongong.
“Logo na primeira, segunda volta, vi que estava forte, estava a sentir-me bem. Reparei que havia favoritos que estavam com fraquezas, que não estavam tão bem. E esses adversários iam tentar levar a corrida devagar. Percebi isso, comecei a atacar – uma jogada arriscada. Tentei endurecer a corrida para mim, sempre controlado. E fui sempre endurecendo para, na parte final, esses adversários já não estarem e quem estivesse estar muito justo”, revelou.
O ciclista natural de Caldas da Rainha chegou a dispor de mais de 20 segundos sobre os perseguidores, mas acabou por ser apanhado por Emil Herzog a três quilómetros da meta, com o alemão a levar a melhor no ‘sprint’ a dois, após 3:11.07 horas de prova.
“Estava a sentir-me bem, a corrida tinha aquela subida que era o jeito. Depois, o ‘sprint’ final era mais complicado, o meu adversário era muito forte. O ‘sprint’ não me favorecia, era um ‘sprint’ a descer, em que se tinha de ‘sprintar’ com cadência, e eu gosto de ‘sprints’ com ligeira inclinação”, notou.
O campeão nacional júnior de fundo e contrarrelógio explicou ainda a conversa que teve com Herzog, quando o alemão o alcançou.
“Isso são conversas que as pessoas que estão a ver de fora não entendem. Quando ele chegou ao pé de mim, eu disse-lhe que estava com cãibras e ele foi ali a puxar mais um pouco e, depois, perguntou se me ia levar até à meta e ganhava ele. Mas eu disse que não, ele foi tranquilo, e fizemos a corrida normal”, detalhou.
A prata nos Mundiais coroa uma temporada fantástica do promissor ciclista português, que venceu ainda a Volta a Portugal de juniores, o Giro della Lunigiana, em Itália, e a Volta ao Douro em Espanha, foi segundo no Troféu Centre Morbihan, na Corrida da Paz e na Gipuzkoa Klasikoa, tendo sido quarto na Volta ao Pays de Vaud.
“Tinha sido mais de sonho se tivesse ganhado hoje, mas sim, foi uma boa época”, concedeu.
O corredor de 18 anos acredita que aquilo que o tem distinguido de outros ciclistas do pelotão é “o esforço” que desenvolve nos treinos e a dedicação: “Dediquei a minha vida a isto. Gosto do que faço, adoro andar de bicicleta, e acho que é por aí que tenho vindo a ter bons resultados.
Prestes a rumar à ‘fábrica de talentos’ da equipa norte-americana Hagens Berman Axeon, por onde passaram quase todos os portugueses que integram atualmente o WorldTour, Morgado mostra-se cauteloso, preferindo dar “um passo de cada vez”, sem pensar ainda em presenças no Tour ou no Giro, corridas onde pretende chegar, mas apenas depois de cumprir os seus objetivos no escalão sub-23.
Perante as inevitáveis comparações com o conterrâneo João Almeida (UAE Emirates), o ‘miúdo’ já conhecido no pelotão internacional quer pelos resultados, quer pelo seu ‘clássico’ bigode notou que o quarto classificado do Giro2020 e quinto na Vuelta deste ano “está num nível completamente acima”.
“Só lendas é que chegam ao nível do João Almeida. Se algum dia conseguir chegar sequer perto dele, já é um orgulho”, concluiu.
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