Nelson Oliveira está orgulhoso por igualar as 20 grandes Voltas de Acácio da Silva, numa 111.ª Volta a França onde o ciclista português irá tentar lutar por uma etapa, apesar da missão de trabalhar para Enric Mas.

“Quando comecei a minha carreira, quase como todos os que começam, o sonho era fazer uma grande Volta e foi concretizado, no meu caso, já há muito tempo [em 2011, na Vuelta]. Os anos vão passando e a verdade é que não estava à espera de levar já 20 grandes Voltas. Mas, felizmente, isso acontece e vamos para a minha 20.ª grande Volta com outra experiência e mais saber, mas com a mesma vontade da primeira, apesar de serem bastante diferentes”, confessou à agência Lusa.

Aos 35 anos, o ciclista português com mais presenças em grandes Voltas nas últimas três décadas alcança, com a sua oitava participação no Tour, o número redondo, o mesmo que Acácio da Silva atingiu com a sua última presença no Giro, em 1993.

“Não sabia que tinha igualado o Acácio da Silva, pois o Acácio foi um grande ciclista português, um dos melhores portugueses de sempre e, sem dúvida, acho que naquela altura seria mais difícil [estar em 20 grandes Voltas]. […] O Acácio teve um grande mérito certamente nessa época, mas é um orgulho enorme estar ao lado dos grandes nomes portugueses”, assumiu.

Sempre modesto, o corredor de Vilarinho do Bairro (Anadia) disse acreditar que esta nova seleção para a ‘Grande Boucle’, que arranca no sábado, em Florença (Itália), e termina em 21 de julho, em Nice, se deve ao facto de ter sido sempre “bastante honesto e sério” no seu trabalho.

“Acho que a Movistar sabe o valor que tenho e, certamente, será por isso que apostam em mim, porque sabem que me esforço bastante para estar onde estou. Eu agradeço enormemente à equipa pelo apoio que me tem dado. Acho que todos nós para estar onde estamos temos de o merecer e eu, até ver, tenho feito um bom trabalho para o merecer e daí ser um dos eleitos nos últimos anos para estar no Tour”, pontuou.

A sua missão na 111.ª edição será, “como todos os anos anteriores, trabalhar para o líder”, embora Enric Mas, quinto classificado em 2020 e sexto no ano seguinte, não tenha tido muita sorte nos últimos anos, “principalmente no Tour”, prova da qual desistiu nas últimas duas edições.

“Este ano esperamos que isso não aconteça e que não haja azares, que a sorte já tentaremos procurar. […] A ideia dele é estar no top 10. Trabalhou bem, fizemos uma boa preparação para isso, ele tem valor, e acho que não está fora de questão fazer um top 10 ou mais além, melhorar os resultados que teve anteriormente”, defendeu.

No entanto, se Mas ficar de fora da luta pela geral, a Movistar vai tentar lutar por etapas, com os espanhóis Alex Aranburu e Oier Lazkano, o sprinter colombiano Fernando Gaviria e… o próprio português.

“As oportunidades são poucas, não é? São 21 etapas para 180 corredores. Mas acho que cada um de nós terá a sua oportunidade e eu certamente terei a minha. O contrarrelógio será para eu tentar disputar. Sabemos que, hoje em dia, os líderes fazem o ‘crono’ muitas vezes melhor do que os próprios especialistas. Aí vou estar focado, mas terei a oportunidade de entrar numa fuga e disputar uma etapa”, anteviu em declarações à Lusa.

Embora chegar a Nice já fosse bom para ‘Nelsinho’, porque seria “sinal de que tudo havia corrido bem”, o ideal era acabar o Tour “com uma tão desejada vitória de etapa”. “Não é impossível, porque vou lá estar, impossível era se não estivesse”, brincou.

Oliveira acredita que vai vivenciar “um Tour bastante bonito, diferente [também] porque vai terminar também num sítio diferente do que é habitual, por causa dos Jogos” Olímpicos, mas sobretudo pela presença dos quatro maiores especialistas em corridas por etapas da atualidade: Jonas Vingegaard, Tadej Pogacar, Primoz Roglic e Remco Evenepoel.

“São grandes nomes e vão fazer tudo para ganhar. Creio que vai haver espetáculo. Parece que o pódio praticamente já está decidido, mas o Tour é bastante longo, bastante duro. Há dias imprevisíveis e nunca se sabe como a corrida vai chegar a Nice. Para mais, em Nice será um contrarrelógio. Se a geral aí ainda não estiver bem definida, que eu creio que já estará, ainda se pode trocar de líder no último dia”, antecipou.

Para o português, Pogacar demonstrou no Giro que “é um dos alvos a bater e estará muito forte”, não se ressentindo do esforço despendido para ganhar a ‘corsa rosa’.

“Agora, há a dúvida do Vingegaard. Eu creio que não chega a 100%, mas provavelmente passará um bocadinho como se passou no ano passado com o Pogacar. […] o Roglic também se viu que está muito bem e certamente irá disputar e o Remco certamente fará das suas. É o seu primeiro Tour, tem algo diferente das outras grandes Voltas, mas certamente o fará bem”, analisou.

Oliveira teve ainda palavras para o estreante português, João Almeida (UAE Emirates), um compatriota que acha que “pode chegar longe”.

“Já não era o primeiro ciclista que, a trabalhar para o seu líder [Pogacar], fez top 10 no Tour ou pódio. Apesar de tudo, o Tour não é o Giro nem a Vuelta, é uma corrida que se corre diferente, o stress é outro, a pressão é outra e vai ser uma experiência nova para o João, apesar de já ter alguns anos no WorldTour e ter feito pódio numa grande [terceiro no Giro2023]”, concluiu.