Chris Froome protagonizou hoje uma imagem que ficará na história do ciclismo, ao correr a pé em desespero no Mont Ventoux para manter a amarela do Tour de França, que conservou graças a uma decisão da organização.
O líder da Sky viveu um momento de puro desespero: quando seguia destacado na frente dos outros candidatos, já depois de Thomas de Gendt (Lotto-Soudal) ter vencido a 12.ª etapa, foi protagonista de uma queda, juntamente com o australiano Richie Porte (BMC) e o holandês Bauke Mollema (Trek-Segafredo), que embateram contra uma moto da organização, tendo a bicicleta do britânico se paertido, o que obrigou Froome ainda a correr vários metros da subida ao Mont Ventoux, até receber nova bicicleta.
Num primeiro momento, o esforço pareceu ter sido inglório, com Froome a perder a liderança da geral para o compatriota Adam Yates (Orica-BikeExchange). No entanto, pouco depois, a organização, através do colégio de comissários, ‘retificou’ o escandaloso incidente com a ‘devolução’ da amarela ao seu anterior dono.
A 12.ª etapa começou mal e acabou pior: preocupada com a previsão de ventos ciclónicos, que poderiam atingir os 100 km/h no topo mais icónico da Volta a França, a organização decidiu encurtar em seis quilómetros a subida ao Mont Ventoux, deixando-o com ‘apenas’ 15,6.
Com o mítico cume à distância de 178 quilómetros, para cumprir desde Montpellier, as equipas dos candidatos à geral mostraram-se indiferentes perante a iniciativa de Bertjan Lindeman e Sep Vanmarcke (Lotto-Jumbo), Stef Clement (IAM-Cycling), Serge Pauwels e Daniel Teklehaimanot (Dimension Data), André Greipel e Thomas De Gendt (Lotto-Soudal), Bryan Coquard e Sylvain Chavanel (Direct Énergie), Iljo Keisse (Etixx-Quick Step), Chris Anker Sørensen (Fortuneo-Vital Concept), Daniel Navarro e Cyril Lemoine (Cofidis).
Aos 19 quilómetros, os 13 já tinham mais de seis minutos de avanço para o pelotão, uma vantagem que cresceria até aos 18.40 minutos, até começar a cair a cerca de 75 quilómetros da meta. Enquanto a fuga seguia o seu rumo, Simon Gerrans (Orica-BikeExchange) mediu mal uma curva a descer e arrastou três homens da Sky para o chão, com o camisola amarela a escapar ileso por pouco e a pedir aos rivais para aguardar.
Os três elementos da formação britânica, escoltados por Froome, que parou para esperar pelos seus companheiros, rapidamente reintegraram o pelotão, que enfrentou a contagem de categoria especial a quase nove minutos do grupo de fugitivos, do qual saltou, para escalar em solitário, o ‘sprinter’ Greipel.
A tentativa do alemão foi breve, com De Gendt, Navarro e Pauwels a ficarem na frente para discutir entre si a etapa – ganhou o melhor de todos, o belga da Lotto Soudal, um dos ciclistas mais virtuosos e combativos do pelotão, que bateu ao ‘sprint’ o seu compatriota da Dimension Data, e cumpriu a tirada em 04:31.51 horas.
Com Mikel Landa (Sky) no comando do grupo de favoritos, Alejandro Valverde atacou em força no sopé, sendo prontamente absorvido pelo trabalho da Sky. Numa estratégia concertada da Movistar, logo de seguida arrancou Nairo Quintana, que não foi longe, mas deixou Daniel Martin (Etixx-QuickStep), à partida terceiro na geral, e Roman Kreuziger (Tinkof) em dificuldades.
Mas foi Froome a testar verdadeiramente as forças dos candidatos, levando na roda Porte e o colombiano da Movistar, que, à segunda aceleração do duplo vencedor do Tour, 'estourou'. Mollema pedalou para colar ao duo de amigos, expondo novamente as debilidades do colombiano e de Fabio Aru (Astana) e assumindo-se como um verdadeiro candidato ao pódio de Paris.
No entanto, num momento que ficará para a história do ciclismo como dos mais desastrosos de sempre, uma moto causou a queda do trio, com o camisola amarela, em desespero e com a bicicleta partida, a correr à espera de que alguém lhe desse uma bicicleta – recebeu primeiro uma do carro de apoio neutro, claramente pequena para si, e depois uma do seu carro, tendo cortado a meta a 1.14 minutos de Quintana.
Despromovido ao sexto lugar da geral, Froome acabou por voltar à liderança, graças a uma decisão do colégio de comissários, que o creditaram (a si e a Porte) com o tempo do holandês da Trek-Segafredo, que cortou a meta a 5.05 minutos do vencedor.
Assim, o britânico nascido no Quénia, aumentou a vantagem para os rivais, tendo agora 47 segundos de vantagem sobre Yates, 56 sobre Mollema e 1.01 minutos sobre Quintana, os três homens que o sucedem na geral, na véspera do único contrarrelógio da 103.ª edição, que se disputa na sexta-feira, no total de 37,5 quilómetros entre Bourg-Saint-Andeol e Le Caverne de Pont.
Entre os portugueses, Nelson Oliveira (Movistar) foi o primeiro a chegar, na 87.ª posição, a 23.37 minutos de De Gendt, e manteve o 123.º lugar da geral, a 1:58.22 horas do primeiro. Rui Costa (Lampre-Merida) chegou num grupo a 25.25 e é 55.º na geral, a 1:02.03 de Froome.
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