Vitor Carvalho sempre sonhou estar nos Jogos Olímpicos, mas nunca pensou que a sua estreia fosse como treinador da seleção de ciclismo dos Emirados Árabes Unidos, algo que lhe causa um misto de emoções.

Nem só da delegação de Portugal é feita a história portuguesa no Rio2016. Nos corredores da Aldeia Olímpica, a comitiva nacional poderá deparar-se com um outro luso, que reconhecerá apenas pelo carregado sotaque nortenho, que lhe denuncia a proveniência mesmo quando está vestido com as cores dos Emirados Árabes Unidos

Vitor Carvalho sempre alimentou o sonho olímpico, mas o manager da equipa NASR-Dubai, destacado no Rio de Janeiro como treinador e diretor técnico dos Emirados Árabes Unidos (EAU), nunca pensou vir a fazê-lo sem ser pelo seu país.

“Eu tenho uns sonhos um bocadinho altos e o que tem vindo a acontecer é que tenho conseguido concretizá-los. Não esperava estar nos Jogos com o cargo que estou agora, mas estou a gostar. Está a ser uma experiência muito interessante. Tenho trabalhado bastante diretamente com o atleta, mesmo no percurso, e creio que ele vai ter um bom desempenho”, resumiu à agência Lusa.

No Rio2016 para acompanhar Yousef Mirza na prova de fundo do ciclismo de estrada, o antigo ciclista confessa que não estar a representar o seu país lhe causa “um ‘mix’ de emoções”.

“Claro que sou português, a minha alma é portuguesa e gostaria de estar a representar Portugal, mas como já estou há bastantes anos nos Emirados e como fui recebido de uma forma bastante carinhosa por todas as pessoas, grande parte de mim também já fala árabe… mas é diferente estando Portugal a competir, mas neste momento, seguramente, é para representar os Emirados a 100 por cento”, assegurou.

As fotos que partilha nas redes sociais denunciam o entusiasmo com que está a viver a oportunidade de ser ele próprio parte dos Jogos Olímpicos.

“Viver na Aldeia Olímpica é uma experiência bastante gira. Basicamente é quase como quando estamos numa corrida. O que fazemos aqui é treinar de manhã, depois ir para o quarto descansar, preparar os próximos treinos e analisar os que já fez. É engraçado e interessante, porque, quando vamos jantar, são milhares de pessoas e gente de todas as nacionalidades. Acabamos por ver algumas pessoas que admiramos ou, digamos, ídolos, pessoas de grande nome no desporto internacional, que estão ali connosco”, descreveu à Lusa.

No Rio de Janeiro desde 27 de julho, o responsável técnico dos EAU encontrou um percurso de 238 quilómetros mais difícil do que o esperado.

“Já tive a oportunidade de o fazer várias vezes desde que cá estou e posso dizer que fiquei surpreendido. Não me lembro de ter visto nenhuma corrida tão dura quanto a que se vai apresentar aqui nos Jogos Olímpicos, que tem subidas bastante inclinadas, com paralelo. Vai fazer bastante vento junto ao mar. Creio que não vão acabar mais do que 30, 40 ciclistas”, revelou, mostrando-se confiante que o seu ciclista irá ser uma agradável surpresa.

Mas nesse dia 06 de agosto, Vitor Carvalho, de 33 anos, vai ter o coração dividido, porque na seleção do seu país estará aquele que, mais do que um amigo, considera um irmão.

“Toda a gente sabe que o Nelson para mim é como um irmão. Claro que estou a torcer por ele. Não é um percurso que o favoreça, mas visto que ele teve uma excelente prestação na Volta a França, creio que se vai portar bastante bem”, disse, referindo-se a Nelson Oliveira (Movistar), um dos quatro representantes nacionais na prova de fundo.

No entanto, a grande esperança de Vitor Carvalho e de toda uma nação é o contrarrelógio do Rio2016: “Para o Nelson tenho umas expectativas bastante elevadas para o dia 10. Tenho vindo a falar com ele das sensações que tem tido e estou bastante convicto de que vai chegar às medalhas e vai ser uma grande alegria para nós portugueses”.