Um relatório elaborado por uma comissão independente considera que alguns dos antigos dirigentes da União Ciclista Internacional (UCI) protegeram Lance Armstrong nos escândalos de ‘doping’ para tentarem salvar a reputação da modalidade.
No relatório hoje divulgado, a Comissão Independente para a Reforma do Ciclismo (CIRC) considera que “houve um tratamento preferencial” ao norte-americano, vencedor de sete edições da Volta a França.
“A UCI viu-o como uma figura ideal para o renascimento do ciclismo depois do escândalo com a Festina, em 1998”, refere o relatório, considerando que a nacionalidade de Armstrong abriu um novo continente ao ciclismo e a sua condição de sobrevivente a um cancro rapidamente “o transformou numa estrela”.
Segundo o documento, “a UCI não conseguiu perceber que Armostrong, o herói que sobreviveu a um cancro e era um ídolo para os adeptos, tinha os mesmos direitos e obrigações” de qualquer outro ciclista.
O atual presidente da UCI, Brian Cookson, referiu que o relatório mostra que, no passado, o organismo “sofreu bastante com a má governação de indivíduos que tomaram decisões cruciais, que minaram os esforços de luta contra o ‘doping’”.
Cookson, que assumiu a presidência da UCI em 2013, não referiu nomes, mas o relatório aponta ‘o dedo’ aos dois anteriores presidentes da UCI, Hein Verbruggen e Pat McQuaid.
Apesar de não ter encontrado ligação entre doações, no valor de 125.000 dólares, feitas por Armostrong à UCI e o encobrimento de atos ilícitos do ciclista, a comissão considera que tais atos levantam suspeitas.
Segundo o relatório, Armostrong foi autorizado em 1999 a entregar, com efeitos retroativos, uma receita médica para evitar uma sanção na Volta a França, quando quatro dos 15 testes realizados acusaram consumo de corticosteroides.
O documento refere também que em 2009, quando Armstrong regressou à competição, foi autorizado a competir no Tour Down Under, na Austrália, sem ter efetuado todos os testes necessários.
Citando um especialista, o relatório indica que existem “acusações sérias” de que alguns ciclistas pagavam uma espécie de imposto ‘antidoping’ para evitar testes.
A CIRC foi constituída com o apoio da UCI e do seu atual presidente para investigar a atuação do organismo durante o caso Lance Armstrong.
Em outubro de 2012, o ciclista foi irradiado do desporto e perdeu as sete vitórias na Volta a França (conseguidas entre 1999 e 2005), depois de a Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA) ter comprovado o seu envolvimento no que considerou o “mais sofisticado sistema de dopagem da história do desporto”.
Em janeiro de 2013, o texano confessou o recurso ao doping numa entrevista televisiva e admitiu que em 1995 o recurso ao doping estava completamente generalizado.
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