A segundo dia de audições das escutas telefónicas da “Operación Puerto” revelou esta quarta-feira que José Antonio Escuredo, selecionador espanhol de ciclismo de pista, era um dos clientes de Eufemiano Fuentes.

Uma conversa de 16 de maio de 2006 entre o principal acusado de um dos maiores casos de dopagem do desporto e um homem chamado José sobre a aquisição de produtos dopantes forneceu algumas pistas que condizem com o perfil de Escudero, medalha de prata de keirin (pista) em Atenas2004.

«Estou muito contente. Terminei em segundo outra vez», pode ouvir-se José dizer a Fuentes, uma declaração atribuída pelo tribunal a Escudero, que ganhou a prata no keirin nos Mundiais de Bordéus, a 14 de abril de 2006.

A conversa continua com o cliente a recordar que é «o único ciclista» a ter estado presente nas quatro últimas provas grandes, nas quais conquistou três medalhas de prata.

Escuredo conquistou o ouro olímpico em 2004, antes de ser segundo nos Mundiais do mesmo ano e nos Mundiais de 2006.

Contactado pela France Press, o selecionador espanhol de pista negou o envolvimento com doping: «Meteram-me no mesmo saco do que todos os outros, por simplesmente lhe ter ligado [a Fuentes] cinco ou seis vezes. Isso não significa que me tenha dopado».

De acordo com Escudero, a voz é a sua, mas o produto em questão são pastilhas para dormir. O espanhol garante que só descobriu as atividades ilegais do médico canário quando este foi preso, a 23 de maio.

O vice-campeão olímpico de 2004 não foi o único implicado pela audição das escutas, já que também o colombiano Santiago Botero, vencedor da camisola da montanha da Volta a França de 2000 e campeão do Mundo de contrarrelógio em 2002.

Uma conversa datada de 17 de maio não deixa dúvidas quanto à relação entre Fuentes, cérebro da “Operación Puerto” e o antigo ciclista na altura na Phonak.

«Hoje, fizeste-o ou não?», pergunta o clínico a Botero, que estava na Volta à Catalunha.

O colombiano responde-lhe que vai «fazê-lo», mas recebe uma contraordem de Fuentes, que lhe pede para esperar mais um dia: «Ouve-me bem: isso não é para andar melhor, mas para criar uma base para avançar. Por isso, é melhor que o faças quando estiveres bem cansado, como depois da etapa de amanhã».

Como conclusão, o médico pede-lhe para seguir a programação prevista.

Botero foi ilibado pela federação colombiana de ciclismo com o argumento de que as provas sobre a sua implicação na “Operación Puerto”, apresentadas pela Guardia Civil, não estavam «validadas nem autenticadas por uma autoridade judicial competente».

A audição das gravações permitiu também perceber que Eufemiano Fuentes sabia que estava a ser escutado: «Um ‘olá’ a todos os que nos escutam. Esta é uma gravação teste que nós os dois estamos a ensaiar para o caso de quererem pregar-nos uma partida».

A frase foi dita durante um diálogo com um corredor basco, que no dia seguinte lhe telefonou a pedir “um iogurtezinho”.

Fuentes, que indicou que devia diluir o produto numa garrafa de meio litro de água, com um pouco de sal e bebe-lo de seguida, despediu-se do seu interlocutor em euskera, antes de enviar uma mensagem sms a Ignacio Labarta, outro dos acusados.

«Acaba de telefonar-me o ‘um’ para fazer-me a perguntinha do dia», escreveu o médico.

O “um” ou chaves como “Una e “1ai” são comummente associados ao ex-ciclista Unai Osa, cujo nome aparece nos documentos apreendidos na casa de Fuentes.