O ciclista italiano Rinaldo Nocentini, líder do recém-regressado Sporting-Tavira, está cada vez mais adaptado ao pelotão português e ao seu estatuto de favorito para a Volta a Portugal, que só vai preparar a partir de maio. “Gosto muito de estar aqui, a adaptação está a correr bem. Estou confortável e feliz”, assegurou à Agência Lusa, quando questionado sobre se a transição da grandeza do WorldTour para a dimensão quase familiar do pelotão português estava a ser complicada.

O italiano tatuado, com ‘manias’ estranhas – como os calções com mais oito centímetros de comprimento que encomendou especialmente para si -, é um personagem. Quando todos se apressam para a concentração da partida, senta-se, num ‘Clube da Volta’ já deserto, para apanhar sol, depois de cumprir o ritual de só abandonar a carrinha do Sporting-Tavira dez minutos antes do encerramento da assinatura do livro de ponto.

O à-vontade com que se move nos bastidores da Volta ao Alentejo é o mesmo com que desmonta a ideia pré-concebida de que o primeiro escalão do ciclismo mundial é um ‘bicho-de-sete-cabeças’: “A grande diferença é na corrida em si. Aqui o ritmo é muito rápido. No WorldTour, fazem-se 15, 20, 30 quilómetros intensos e depois, quando se forma uma fuga, vamos mais tranquilos. Aqui não.”

Aos 38 anos, o italiano, que chegou a andar de amarelo na Volta a França e que representou a francesa AG2R durante nove temporadas, aventurou-se num mundo desconhecido. “Agora já conheço melhor [o pelotão nacional] do que quando cheguei a Portugal. E vou conhecer ainda melhor à medida que o tempo passar, vou saber quem são todos os corredores, as suas caraterísticas”, assumiu, contando que conhecia apenas “de nome” Gustavo Veloso (W52-FC Porto) e Alejandro Marque (LA-Antarte), os últimos dois vencedores da Volta a Portugal. “Falei com a equipa e disseram-me que são os dois homens mais perigosos na Volta. Vou tentar estar com eles”, prometeu o ciclista dos ‘leões’.

No entanto, Nocentini recusa alinhar na tática dos dois galegos, sobretudo de Veloso, que começa a preparar a Volta a Portugal logo em outubro, em plena pré-temporada. “Não gosto disso, não funciona comigo. Quero fazer um bom período daqui até maio, para depois descansar um pouco e tentar fazer uma boa preparação para a Volta a Portugal”, revelou.

O plano do veterano italiano para a prova rainha do calendário nacional, que vai decorrer entre 27 de julho e 07 de agosto, passa por conquistar a vitória antes daquele que tem sido, por tradição, o momento decisivo das últimas edições: o contrarrelógio. “Eu, no crono, não sou mau, mas não é a minha disciplina. Espero que, estando bem nas montanhas, possa decidir a Volta aí”, concluiu.