A paixão pelo ciclismo é tal que Ricardo Scheidecker admite nem ter a perceção da grande responsabilidade que é ser o diretor técnico da Deceuninck-QuickStep no Tour, a corrida “avassaladora” onde a equipa belga só quer ganhar.
“Acho que a paixão, se calhar, tolda-me a visão ou a perceção da grande responsabilidade. Nós somos todos apaixonados pelo que fazemos... se calhar é, não sei. É possível. Tento só fazer o melhor”, desmistificou o português, ao ser confrontado com a dimensão da responsabilidade do cargo que desempenha naquela que foi a melhor formação mundial em 2018.
Apesar de já contar com 47 triunfos esta temporada, o último das quais alcançado na segunda-feira, na terceira etapa, pelo carismático francês Julian Alaphilippe, que vai partir hoje de Reims com a camisola amarela vestida, a obsessão vitoriosa da Deceuninck-QuickStep não se esgota.
Tanto que, ao ser questionado pela Agência Lusa sobre quais os objetivos da equipa belga para este Tour, disparou: “Ganhar, ganhar. É esse o objetivo em todas as corridas em que participamos, aqui não é diferente”.
“Nós temos uma equipa que se adapta a tudo: a chegadas ao sprint, à geral, com o Enric Mas, e depois temos o Julian que é um corredor todo-o-terreno, que pode fazer tudo. Estamos preparados para qualquer tipo de oportunidade que surja e vamos trabalhar para dar o máximo de condições para que os corredores possam vencer”, explicou.
Esse desejo de proporcionar o ambiente ideal aos seus ciclistas, leva a que, nos bastidores da Volta a França, Ricardo Scheidecker não pare um segundo, desdobrando-se em tarefas, contactos, conversas. Responsável pela ‘gestão’ da componente desportiva da equipa belga – “dentro de minha área, estão os diretores desportivos e todo o staff de apoio à equipa, os massagistas, os mecânicos” -, não hesita em pôr mãos à obra para ajudar os colegas naquilo que for possível.
“Não sou diretor desportivo, por isso não conduzo o carro, ajudo os meus colegas sim na coordenação da nossa organização interna, e faço o reconhecimento na frente da corrida, uma coisa que já fiz noutras equipas onde estive. E se tiver de algum dia de estar nas montanhas a dar bidões aos nossos corredores, vou fazê-lo também”, assumiu na entrevista à Agência Lusa.
O português, que já desempenhou quase todas as funções na modalidade – foi mecânico da seleção, funcionário dos serviços administrativos da Federação Portuguesa de Ciclismo, 'braço direito' de Joaquim Gomes, o organizador da Volta a Portugal, e elemento da União Ciclista Internacional, além de diretor técnico na RadioShack/Leopard-Trek e coordenador da Tinkoff –, não tem “absolutamente problema nenhum” em desempenhar tarefas que não são as suas, até por considerar que o seu poderá ser um bom exemplo e uma motivação para quem tem de “trabalhar duro todos os dias”.
Quase um ‘veterano’ na ‘Grande Boucle’, onde está a cumprir a sua nona participação, sempre com funções técnico-desportivas, o homem que “orquestra a bem oleada máquina que é a Deceuninck-QuickStep” (a descrição pertence à sua biografia na página da formação belga) confessa que “o Tour é o Tour e toda a gente quer estar no Tour, mas é também a corrida onde há mais stress”.
“A corrida é tão grande que avassala. Se não formos disciplinados e tivermos uma boa organização...é por isso que temos mais gente do que noutras corridas, é por isso que temos uma estrutura maior que nos acompanha, porque a dimensão maior desta corrida obriga-nos a ter outros cuidados. Isso também quer dizer mais trabalho, mais pressão, maior exposição”, enumerou, admitindo que, apesar de ser uma satisfação estar nesta caravana, não é fácil gerir todas as solicitações da Volta a França.
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