A Volta a Portugal tem sido uma questão galega e a 77.ª edição pode não ser exceção, com os ciclistas portugueses a enfrentarem a missão de contrariar o favoritismo de Gustavo Veloso e Alejandro Marque, os últimos dois vencedores.
David Blanco despediu-se do ciclismo com a sua quinta vitória (2006, 2008, 2009, 2010 e 2012) na Volta a Portugal, mas assegurou-se de que o seu legado seria prolongado por dois velhos amigos e companheiros de treino: Alejandro Marque, o inesperado vencedor de 2013, e Gustavo Veloso, o campeão em título.
Sabe-se agora que a maior prova velocipédica nacional é, por tradição e resultados, ou não tivessem vencido sete das últimas dez edições, uma questão galega, quase de vizinhos, e a julgar pelos principais candidatos ao triunfo da 77.ª edição dificilmente deixará de o ser.
Em todas as conversas de bastidores, é o nome de Gustavo Veloso (W52-Quinta da Lixa) o mais vezes repetido. Não é de estranhar, tendo em conta o domínio avassalador de 2014 – vestiu a camisola amarela à terceira etapa e nunca mais a largou -, que só deu sinais de esmorecer na etapa da Torre, o ‘1’ que envergará na quarta-feira, no prólogo de seis quilómetros, em Viseu, e a fidelidade absoluta de Delio Fernández, o outro galego do trio de amigos que poderia aspirar à vitória, mas que ficará contente se repetir o terceiro lugar do ano passado.
Apostar no ciclista de 35 anos é um risco seguro, como o era em 2013, ano em que o excesso de confiança o fez perder a amarela mais apetecida para aquele que era o seu principal trabalhador. Marque descobriu em si um potencial de trepador, roubou a Volta ao seu líder por quatro segundos e viu o seu sonho feliz transformar-se em pesadelo, com um positivo por betamatasona a turvar-lhe uma carreira que começava a descolar.
Depois de meses parado, o ciclista de A Estrada foi ilibado pela Federação Espanhola, uma notícia recebida em alvoroço pelas equipas nacionais que se apressaram a oferecer um contrato apelativo a um ciclista que tem nas suas aptidões únicas de contrarrelogista a sua maior virtude profissional.
A Efapel ganhou a corrida por Marque e garantiu que, entre quarta-feira e 9 de agosto, ao longo de 1.550,1 quilómetros, os dois últimos vencedores tenham a oportunidade de discutir, em formações diferentes, quem é de facto o mais forte.
Mas nesta luta entre galegos, há portugueses que querem ter uma palavra a dizer. Entre eles, os principais são Ricardo Mestre (Team Tavira), o último vencedor português, o único que se intrometeu em ‘território’ vizinho com o seu triunfo em 2011, e Rui Sousa, o vice do ano passado, que tem uma Rádio Popular-Boavista fortíssima na montanha a apoiá-lo
Contra si, os dois têm os 40,2 quilómetros de contrarrelógio (ao prólogo une-se um crono de 34,2 quilómetros na véspera da chegada Lisboa), mais favoráveis a Veloso ou Marque, um ‘handicap’ que também condiciona as candidaturas de Jóni Brandão (Efapel) ou Amaro Antunes (LA-Antarte), os dois principais ‘outsiders’ desta edição.
Curiosamente é de um português a correr em Espanha, mais especificamente na Caja Rural, que pode vir o maior perigo: ninguém aponta Ricardo Vilela como favorito, mas o ciclista transmontano há muito que demonstrou que a montanha é o seu domínio.
Pela primeira vez no papel de líder, o homem que apoiou Blanco no seu último triunfo e Veloso no ano passado pode soltar-se e, sem nada a provar, escapar à marcação dos ‘inimigos’ nacionais para suceder ao seu antigo chefe de fila na lista de vencedores da Volta a Portugal.
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