O fugitivo Kyle Murphy contrariou a expectativa de uma chegada ao ‘sprint’ em Castelo Branco, beneficiando da placidez de um pelotão demasiado preocupado com a Torre, para conquistar a segunda etapa da Volta a Portugal em bicicleta.
“É muito surpreendente, muito bom”, fora estas as palavras escolhidas pelo norte-americano para descrever a sua primeira vitória como profissional e que resumem na perfeição a segunda tirada da 82.ª Volta a Portugal, em que o pelotão facilitou e, quando acordou, já não conseguiu apanhar o corredor da Rally Cycling.
De currículo modesto – o terceiro lugar nos Campeonatos Nacionais deste ano será um dos maiores destaques -, Murphy, que já tinha participado na edição especial da prova, assim como na Volta ao Algarve deste ano, considerou que este é um “momento de viragem” para si e para a sua equipa, depois de anos de muitas dificuldades.
Era uma das raríssimas oportunidades para os ‘sprinters’ nesta edição, mas a permissividade do pelotão, na véspera dos 170,3 quilómetros entre a Sertã e o alto da Torre, permitiu que um dos fugitivos do dia chegasse isolado a Castelo Branco, onde a W52-FC Porto fez prova de vida, lançando Joni Brandão, que foi segundo na meta, a 12 segundos do vencedor, e que recuperou cinco para o camisola amarela Rafael Reis (Efapel), subindo ao quarto lugar da geral.
A alentejana Ponte de Sor, a única cidade em estreia nesta edição, acolheu o arranque dos 162,1 quilómetros da segunda etapa, animada por Murphy, Marvin Scheulen (LA Alumínios-LA Sport) e Andrew Turner (SwiftCarbon), o trio que atacou pela primeira vez ao quilómetro três, sem sucesso, e voltou a tentar sete quilómetros depois, com um desfecho feliz.
Com a conivência da Efapel, que não impôs um ritmo forte na perseguição, numa clara poupança para a etapa ‘rainha’, os três chegaram a dispor de uma vantagem de mais de nove minutos, uma margem que obrigou a Tavfer-Measindot-Mortágua a entrar ao serviço para tentar garantir o ‘sprint’ a Iuri Leitão.
O esforço da equipa de Mortágua encurtou diferenças, mas foi insuficiente, com a Caja Rural a vir em seu auxílio tarde demais – a 20 quilómetros de Castelo Branco, a diferença era ainda superior a três minutos.
Com a camisola da montanha assegurada – e será com “orgulho” que a vestirá no sábado, na subida à Torre -, Scheulen foi o primeiro a abdicar, seguindo-se Turner, com Murphy, que não deixou de salientar o papel dos seus companheiros de jornada no seu triunfo, a encontrar forças onde estas já não existiam para cortar a meta com o tempo de 3:57.49 horas.
Enquanto o norte-americano de 29 anos pedalava entre o sol e a sombra para celebrar a sua primeira vitória como profissional – bateu no peito, antes de apontar para o nome da equipa e abrir um sorriso -, no pelotão, a W52-FC Porto surpreendia com uma tática bem delineada.
À entrada do último quilómetro, João Rodrigues tomou a dianteira, acelerou, preparando o ataque de Brandão, que saltou forte e abriu logo um espaço para o grupo, com dois ‘dragões’ a bloquearem a reação dos homens do Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel – o segundo lugar na etapa foi celebrado efusivamente pelos ‘portistas’, com Brandão e Rodrigues a abraçarem-se depois da meta.
O espanhol Lluís Mas (Movistar) foi o primeiro do pelotão, e terceiro da tirada, a 17 segundos, com todos os favoritos a concluírem a etapa com o mesmo tempo, na véspera do primeiro grande teste da 82.ª edição,
“Está a ser uma Volta bonita e ir de amarelo para a Torre pode ser que dê uma força extra, mas sei que não é o meu terreno predileto”, assumiu Rafael Reis, quase em jeito de despedida da liderança da geral, que comanda com 13 segundos de vantagem sobre o seu companheiro uruguaio Mauricio Moreira e 17 sobre o espanhol Diego Lopéz (Kern Pharma), com Brandão, a 18.
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