A Glassdrive-Q8-Anicolor vai ganhar a 84.ª Volta a Portugal, restando apenas saber qual dos seus ciclistas vestirá a amarela final, numa edição ‘ideal’ para Frederico Figueiredo ser recompensado pelo ‘sacrifício’ do ano passado.

Nada faria prever uma alteração de planos na equipa de Águeda, já que Mauricio Moreira, o campeão em título e ‘vice’ do ano anterior, esteve irrepreensível durante grande parte da época e ainda há três semanas ganhou o Troféu Joaquim Agostinho, mas o diretor desportivo Rúben Pereira ‘desvendou’ o segredo mais bem guardado da Glassdrive-Q8-Anicolor, notando, em entrevista à Lusa, que a vitória de Figueiredo seria benéfica para o ciclismo português, em horas ‘baixas’ e ansioso por um novo ídolo.

É preciso recuar um ano para perceber este aparentemente incompreensível plano da formação mais forte do pelotão nacional, sobretudo numa edição marcada pelo regresso das bonificações: o uruguaio ganhou ao destronar ‘Fred’ no contrarrelógio final, mas, quem viveu a Volta, não terá dúvidas de que o português poderia ter vencido facilmente, caso não tivesse aguardado pelo seu colega quando este viveu momentos difíceis nas montanhas.

A história repetiu-se e, tal como em 2021, quando ‘Mauri’ perdeu a Volta para Amaro Antunes (entretanto desclassificado por doping) por meros 10 segundos, também na passada edição não foi o ciclista mais forte a levar para casa a amarela.

Guiar Moreira, de 28 anos, à vitória após os erros cometidos no ano anterior, era a obsessão da Glassdrive-Q8-Anicolor e do seu diretor, que agora terá o desejo de recompensar a dedicação do trepador de São João de Ver. A seu favor, o ‘vice’ de 2022 e terceiro classificado de 2020 tem o facto de o contrarrelógio não ser plano, com a parte final do exercício que ‘encerra’ a 84.ª edição, em 20 de agosto, a coincidir com os quatro quilómetros de subida ao alto de Santa Luzia.

Com o menor número de quilómetros ‘clássicos’ de contrarrelógio no percurso que liga Viseu, onde a prova ‘rainha’ do ciclismo nacional começa na quarta-feira, e Viana do Castelo, onde termina passados 1.600,5 quilómetros, a seu favor, Figueiredo tem este ano outro motivo de ‘preocupação’, uma vez que o campeão em título costuma ‘intrometer-se’ até nas chegadas ao sprint, podendo somar preciosos segundos de bonificação.

O que é certo é que a verdadeira luta pela amarela ocorrerá dentro da Glassdrive-Q8-Anicolor, com o russo Artem Nych, imponente durante a temporada e outro especialista no ‘crono’ como Moreira, e a surpreendente contratação estival James Whelan a poderem rivalizar com os seus mais credenciados colegas.

Não seria, pois, de estranhar que a formação ‘amarela’ voltasse a ocupar os três primeiros lugares do pódio, até porque o ‘desertor’ António Carvalho, o terceiro classificado em 2022 e agora líder da ABTF-Feirense, está a regressar de lesão, depois de ter partido a clavícula no início de julho.

Ainda assim, o ciclista de 33 anos afigura-se como o mais sério candidato a acompanhar os homens da Glassdrive-Q8-Anicolor na festa no alto de Santa Luzia, uma missão na qual será auxiliado por outro ‘ex’ companheiro de Moreira e companhia, o jovem Afonso Eulálio, um dos ciclistas em melhor forma nesta fase da época.

Já Luís Fernandes (Rádio Popular-Paredes-Boavista), perfeitamente anónimo durante a época, é uma aposta mais ‘arriscada’ para o pódio, tal como Delio Fernández (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) ou o seu colíder, o inexperiente (nestas andanças) Álvaro Trueba.

Pelo que fez durante a temporada, Joaquim Silva seria um claro candidato, mas o seu historial infeliz na Volta a Portugal leva a que seja Henrique Casimiro o homem mais protegido da Efapel. Será ainda difícil imaginar Vicente García de Mateos, terceiro em 2017 e 2018, na luta, com o próprio Aviludo-Louletano-Loulé Concelho a confiar em Jesus del Pino para a geral.

Resta saber o que farão as formações estrangeiras, a começar pelas quatro espanholas do segundo escalão, sobretudo a Euskaltel-Euskadi e Kern Pharma, que não receberam convite para a Volta a Espanha, e os austríacos da Voralberg.