A Agência Mundial Antidoping (AMA) anunciou hoje estar a investigar as insinuações de que atletas chineses beneficiaram de doping sistemático nas décadas de 80 e 90 do século XX, divulgadas pelo canal televisivo alemão ARD.

“As alegações foram feitas por uma ex-médica chinesa, Xue Yinxian, que disse que cuidou de várias equipas nacionais da China durante as décadas em questão”, refere a AMA em comunicado.

Xue Yinxian, que recentemente chegou à Alemanha em busca de asilo político com o seu filho, afirmou que mais de 10 mil atletas foram afetados, alguns com 11 anos, e que quem estava contra o doping era considerado “um perigo para o país” e preso.

Xue, de 79 anos, disse que perdeu o emprego com a seleção nacional chinesa de ginástica depois de se recusar a submeter um atleta com substâncias dopantes antes dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

Em declarações ao canal televisivo ARD disse ainda que não se sentia segura em Pequim desde 2012 - daí o seu desejo de obter asilo político na Alemanha -, quando, pela primeira vez, abordou a questão do uso generalizado de doping.

“Nos anos 80 e 90, os atletas chineses das seleções nacionais utilizaram extensivamente substâncias dopantes. As medalhas foram mergulhadas em doping. Ouro, prata e bronze. Todas as medalhas internacionais deviam ser retiradas", disse Xue Yinxian.

A AMA adiantou que irá examinar “se tal sistema pode ter prevalecido além dessas décadas".

O primeiro passo, segundo a AMA, foi criar uma “equipa independente, para iniciar um processo de investigação, a fim de reunir e analisar a informação disponível em coordenação com parceiros externos”.

Xue, que continuou a trabalhar em níveis mais baixos depois de ter sido demitida da seleção nacional em 1988, disse que só foi abordada depois, quando os atletas desenvolveram problemas por causa das substâncias que receberam.

“Um treinador veio ter comigo e disse-me que os seios dos meninos continuavam a crescer. Esses meninos tinham cerca de 13 e 14 anos”, referiu Xue Yinxian na entrevista ao canal televisivo.