Cinco dos 11 atletas portugueses que, entre 14 e 21 de dezembro, vão participar na Taça do Mundo de boccia, no Dubai, são da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC), palco do estágio final da seleção.
Os principais atletas portugueses de boccia estão no Centro de Reabilitação da APPC a preparar a participação na prova que vai decorrer nos Emirados Árabes Unidos, usufruindo das instalações de uma instituição que, desde a década de 1980, tem somado campeões europeus, mundiais e paralímpicos.
A preparação dos atletas da APPC está a cargo do professor Ricardo Neves, que, à agência Lusa, elogiou o facto de o Centro de Reabilitação "possuir as condições ideais para a preparação", reunindo aos três campos com as medidas oficiais, as acessibilidades que permitem um rápido acesso às casas de banho e à cantina para fazerem as refeições.
A idade dos 11 atletas varia entre os 24 e os 54 anos, tendo o treinador enfatizado que no boccia "não há veteranos" e assumido que estes partirão para o Dubai confiantes em "trazer os melhores resultados possíveis", numa competição em que "não são apenas as medalhas que interessam".
Neste cenário, a subida no 'ranking' mundial assume "especial relevância", tendo em conta futuras participações em Europeus e Mundiais, explicou o treinador.
Bruno Osório, Abílio Valente, Nélson Fernandes, Avelino Andrade e Manuel Cruz são os atletas da casa e, por estes dias, o seu foco está mais do que nunca na preparação, como referiu à agência Lusa o campeão do mundo na classe BC2 (tetraplégicos com pouca força funcional em todas as extremidades e tronco, mas com capacidade para propulsionar a cadeira de rodas), Abílio Valente.
Há oito anos a integrar a seleção nacional, o atleta treina atualmente "quase seis horas por dia" na APPC, num desempenho, explicou, que, "apesar de ser feito numa cadeira de rodas, é bom em termos físicos, pois antes faz-se musculação".
Atleta de Alto Rendimento e incluído no projeto de preparação para os Jogos Paralímpicos Tóquio2020, Abílio Valente disse "dever tudo ao boccia", que abraçou quando ainda residia em Oliveira de Azeméis.
A modalidade permitiu-lhe não só conhecer Portugal e muitos países do mundo, "como obter a estabilidade" para se manter como atleta de Alta Competição.
A recente decisão do Governo de equiparar os apoios entre atletas olímpicos e paralímpicos "pecou por tardia" para Abílio Valente, que enfatizou o facto de treinarem mais do que um atleta dito normal e, por causa disso, ficarem às vezes "quase um mês sem ir a casa".
De uma modalidade em que o "mais difícil em competição é gerir as emoções", Abílio Valente reconheceu que em Portugal "é complicado fazer a renovação do boccia", afirmando "faltar vontade às pessoas para se tornarem atletas".
Para o presidente da AAPC, Abílio Cunha, o problema da falta de renovação "é real e preocupa", apesar de o boccia sénior ser "um fenómeno nacional e a experiência mostrar que quando é praticado nas escolas, em turmas regulares, todos participam".
Lamentando o facto de não haver "tantos valores a surgir" quanto gostariam, "apesar do esforço nesse sentido", o responsável da APPC apelou ao Governo para que "faça um esforço para que a modalidade entre nas escolas", enfatizando que esta "pode ser praticada até numa sala de aula".
"Este espaço existe desde a década de 1980 e tem a vantagem de ser frequentado por muita gente. Temos tido muitas medalhas, quer em campeonatos do mundo quer nos Jogos Paralímpicos", sublinhou o responsável.
No Dubai, Portugal competirá em BC1 com André Ramos (Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal) e Bruno Osório (APPC), em BC2 com Abílio Valente e Nélson Fernandes (APPC) e Cristina Gonçalves (Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa - APCL), em BC3 com Avelino Andrade (APPC), José Macedo e José Abílio Gonçalves (SC Braga) e em BC4 com Domingos Vieira (SC Braga), Nuno Guerreiro (APCL) e Manuel Cruz (APPC).
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