O polaco Ryszard Hoppe, antigo selecionador de Portugal de canoagem, alertou hoje para os “perigos do excesso de euforia” em torno de Fernando Pimenta, considerando que os restantes resultados nos Mundiais foram “algo preocupantes”.

“Foram 13 anos a trabalhar em Portugal, onde ficou boa parte do meu coração. O Pimenta é um fenómeno, indestrutível, e merece o êxito, mas o resto dos resultados são algo preocupantes. Se fosse apuramento olímpico, diretamente só entrava ele”, avisou.

Ryszard Hoppe, que liderou a seleção entre 2005 e 2017, destacando-se a prata olímpica conquistada em Londres2012 com Pimenta e Emanuel Silva em K2 1.000 metros, admitiu ter ficado “apreensivo com os restantes resultados”, à margem dos títulos mundiais de Fernando Pimenta em K1 1.000 e 5.000 metros.

“Todo este entusiasmo, justificado, à volta do Fernando Pimenta pode ser perigoso se não pensarmos no resto da equipa. Com as atuais regras, se o apuramento fosse este ano e não em 2019, ele seria o único direto em Tóquio2020”, alertou, depois de Portugal ter apresentado quatro atletas em Pequim2008, seis em Londres2012 e oito no Rio2016.

O técnico polaco gostou, ainda assim, do “promissor desempenho” do K4 500 de Emanuel Silva, João Ribeiro, Messias Batista e David Varela, nono classificado, admitindo que a liderança, desde julho, do seu antigo adjunto Rui Fernandes possa ser “decisiva para o seu sucesso”.

O maior “desalento” vai para a equipa feminina, orientada esta época por Hélio Lucas, o mesmo treinador de Fernando Pimenta.

Apesar de ter o K2 500 de Teresa Portela e Joana Vasconcelos na final, algo inédito nesta tripulação em Portugal, o K4 500 – ao qual se junta Francisca Laia e Francisca Carvalho –, falhou as meias-finais, o que Hoppe classificou de “impensável” e “vergonhoso”.

“Uma prova que foi um desastre. Inadmissível. Facto é que no ano passado estavam cinco mulheres no projeto olímpico e agora ‘evoluíram’ para apenas duas. Confesso que isto me custa muito. Há várias jovens de muito valor que podem ver o seu futuro ameaçado”, lamentou.

Hoppe, que trabalha agora com a equipa masculina da Polónia, admitiu que os anos em Portugal foram “os melhores da carreira”, que contempla várias medalhas em Jogos Olímpicos”.

“Nunca esquecerei os anos aqui passados, mesmo longe da família. Fizemos coisas grandes com a seleção. Sofro por Portugal e não queria ver esse legado desperdiçado”, diz.

Quanto à experiência no país, o polaco manifestou-se apenas “indignado” pelo facto de estar “há 10 meses” à espera que lhe comecem a pagar a reforma, para a qual descontou.

“Uma vergonha. Já vim a Portugal duas vezes e nada me adiantam. Brincam com as pessoas. Quando me insurgi, até já chegaram ao ridículo de me sugerir que me inscreva para pedir Rendimento de Inserção Social”, concluiu.