O judoca Célio Dias assumiu hoje o objetivo de qualificar-se para os Jogos Olímpicos Paris2024, na categoria -100 kg, mas frisou que “nunca mais” irá colocar a sua saúde mental em risco para alcançar as suas metas.

“Eu nunca vou pôr a minha saúde mental outra vez em causa. Nunca mais. Entre a saúde mental e ganhar medalhas, eu vou privilegiar a minha saúde. E é esta mensagem que eu quero passar a todos os atletas mais novos”, afirmou o judoca, de 29 anos, que já disputou os Jogos Olímpicos, em 2016.

Eliminado pelo sérvio Bojan Dosen, na terceira ronda do Grand Prix de Portugal de judo, em Almada, o atleta do Sport Algés e Dafundo frisou que “nesta segunda carreira” na modalidade deseja “acima de tudo” desenvolver-se “como ser humano”, sem estar “preocupado com medalhas”.

Depois da participação no Rio de Janeiro, Célio Dias foi diagnosticado com um síndrome do quadro da família da esquizofrenia e atravessou uma depressão que o afastou dos ‘tatami’ durante vários anos.

Regressou em 2017 e foi nono classificado no Mundial de Budapeste, na categoria de -90 kg, mas voltou a enfrentar problemas de saúde mental e só tornou a competir no ano passado, agora na categoria -100 kg, na qual se sagrou campeão nacional.

Admitiu, no entanto, que não se cansa “de contar essa história, não para enfatizar”, mas, “acima de tudo, para dizer aos atletas para terem cuidado com a saúde mental”.

“É esta a mensagem que eu quero passar a todos os atletas mais novos. Porque nós ainda estamos nunca cultura onde os psicólogos, os psiquiatras e os psicoterapeutas não têm o devido valor. Nós privilegiamos o treino físico, mas o treino físico é só uma parte. Acho que, essencialmente, temos de treinar a mente para que tudo o resto seja possível”, alertou.

Nesse sentido, confessou-se “muito satisfeito” por ter tido “a honra de lutar com os melhores atletas do circuito” no Grand Prix de Portugal e mostrou-se pronto para “os próximos desafios”, sem esconder o objetivo de qualificar-se para Paris2024, onde terá Jorge Fonseca como ‘obstáculo’.

“Não tenho medo de lidar com essa pressão, de assumir que quero ir aos Jogos Olímpicos, independentemente de ter o bicampeão do mundo da minha categoria. O Pedro Soares [treinador] e o Jorge [Fonseca] têm feito um grande trabalho, elevado ao máximo o judo nacional, mas eu sei que eu, o Miguel Santos [treinador] e o Algés e Dafundo também conseguimos fazer o mesmo. É uma questão de tempo e trabalho. E, sem dúvida, sim, quero ir aos Jogos Olímpicos”, assumiu Célio Dias.

A fasquia está, portanto, elevada para o atual campeão nacional de -100 kg, que não mostra, no entanto, qualquer receio de retroceder no seu processo de recuperação da saúde mental no caso de vir a falhar essa meta.

“Não tenho esse receio, porque a grande mudança que tenho estado a trabalhar com a minha psicóloga e a minha psiquiatra é exatamente assumir a possibilidade de perder. Ou seja, na minha cabeça, tenho a possibilidade de ir aos Jogos Olímpicos, mas também de não ir. E, de vez em quando, visito essa sala”, explicou.

Prefere, no entanto, “focar no positivo, mas com a consciência da possibilidade de não ir” a Paris2024, o que, a acontecer, não o irá impedir de lutar por novos objetivos.

“[Vou] errar, vou aprender, com certeza. E se não for aos Jogos Olímpicos [Paris2024], o novo desafio é ir a Los Angeles [2028]. E se não for a Los Angeles, é outro, outro e outro. Enquanto tiver este fogo, eu vou continuar a lutar pelo meu sonho”, assumiu.

Vencedor de uma medalha de ouro e duas de bronze em Grand Prix, além de um terceiro lugar em Grand Slam, Célio Dias regressou hoje, pela primeira vez, às competições internacionais de judo, após a participação nos Mundiais de Budapeste, em 2017.

O judoca português venceu o britânico Harry Lovell-Hewitt no primeiro combate e o uzbeque Shermukhammad Jandreev no segundo, ambos por duplo ‘wasari’ ('ippon'), a 1.42 e a 2.17 minutos do final, respetivamente, mas caiu na terceira ronda, por ‘wasari’, contra o sérvio Bojan Dosen.