Pedro Cary será o próximo chefe de missão nos Jogos Mundiais Universitários que se disputam na cidade chinesa de Chengdu, entre os dias 28 de julho e 8 de agosto.

Em entrevista ao SAPO Desporto, o antigo ala, que terminou a carreira recentemente ao serviço do Leões do Porto Salvo e patenteou uma carreira brilhante no futsal, recorda o seu percurso Académico e aborda a sua missão nos próximos Jogos Universitários.

Em 2008 conquistou o Mundial Universitário em Koper (Eslovénia). A nível sénior conquistou inúmeros títulos ao serviço do Sporting e da seleção nacional, com destaque para a Taça dos Campeões Europeus e para o título europeu pela seleção nacional.

Pedro Cary fala da experiência que pode transmitir às gerações mais novas, defende os estudos como base fundamental para o pós-carreira e aborda uma questão fundamentais: A literacia financeira.

O antigo ala reconhece que o convite foi "nada expetável para quem acabou a carreira há um mês ou dois."

SAPO Desporto: Como é surgiu o convite e qual vai ser o teu papel nos Jogos Universitários?

Pedro Cary: O convite surgiu através do presidente da FADU, Ricardo Nora, e pelo simbolismo pelo facto de ter terminado o meu percurso no futsal e ter tido um percurso consensual, e acho que foi por isso que fui chamado para ser chefe de missão. Os Jogos Universitários também têm dois pilares fundamentais que são o desporto e a educação. São atletas em que o estudo faz parte do seu dia a dia. Estou extremamente orgulhoso por poder representá-los, porque os principais protagonistas são os atletas.

Que experiência é que podes trazer a esta geração mais nova?

Pedro Cary: Estamos a falar de gerações diferentes, alguns atletas têm 20/21 anos, eu tenho mais 20 do que eles. Pretendo fazer ver-lhes que hoje ganhamos ou perdemos mas amanhã temos a oportunidade para melhorar. Lembrar-lhes também que apesar de serem Jogos Universitários não há menos qualidade. Recorde-se que houve grande atletas que fizeram os Jogos, como foram o caso do Nélson Évora, da Patrícia Mamona, e do Nuno Borges. É ver quem passou por esta competição e onde é que eles estão agora. É mais uma oportunidade que eles vão ter para estarem entre os melhores, É uma experiência incrível, com as 18 modalidades presentes.

E a tua experiência nos Mundiais Universitários em 2008?

Na altura estive apenas numa competição onde só havia o futsal, não deu para ter a experiência multicultural e multidesportiva que eles vão ter oportunidade, mas deu-me a oportunidade de ser orientado pelo treinador da minha seleção – era na altura o Orlando Duarte. E isso dá uma maior credibilidade ao trabalho que é desenvolvido. Na altura já tinha tido a experiência de ter ido à seleção A, algo que a maioria não tinha e anos mais tarde acabou por entrar o [guarda-redes] André Sousa. É engraçado ter vivido a experiência e de que esta fez parte do meu percurso. São competições em que temos que estar no máximo da nossa performance e são a continuidade daquilo que queremos alcançar do ponto de vista desportivo.

Achas que os atletas devem ter sempre presente um plano B, para quando a vida desportiva acabe?

Eu não diria que é o plano B, mas é o plano que eles têm que ter. Felizes são os atletas que conseguem conciliar essas duas vertentes. Muitos dizem que a faculdade é para se ir fazendo, porque muitas vezes não é possível dar tudo nos estudos e no desporto da forma como eles gostariam. Realizei o meu percurso Académico no Algarve, no Instituto D. Afonso III, acabei por ter a sorte de conseguir fazer Erasmus. Fiz um semestre no Brasil no segundo ano e fiz um intercâmbio em Espanha, mas só quando venho para Lisboa o futsal se torna algo mais sério. Na altura em que estudava nunca estive num patamar de excelência, que me trouxesse essas dificuldades que eles hoje em dia têm. Mas a mensagem que eu quero deixar é que é possível. É importante também termos uma base familiar sólida que lhes dê apoio e suporte e para que se sintam confortáveis e confiantes.

"Estudos? Eu não diria que é o plano B, mas é o plano que eles têm que ter"

SD: A nível financeiro, como preparaste o fim de carreira?

P.C: Felizmente preparei a minha carreira para que não dependesse de ninguém, nem de outro emprego, para ter a minha vida estabilizada. E é isso também que eu lhes vou passar quando estivermos na China. Financeiramente, em algumas modalidades, é possível receber bons montantes, e é preciso que estejamos preparados para essa gestão. Hoje podemos ganhar 500 e amanhã poderemos ganhar 3000 ou 4000. Se eu não sei cuidar de 100, também não sei cuidar de 1000. Se não fosse assim eu não poderia assumir esta missão. Eu terminaria a carreira no Leões de Porto Salvo e no outro dia tinha que começar a trabalhar. Há outros projetos que eu vou abraçar este ano, que financeiramente não me vão dar nada de especial, mas fruto do que eu consegui ao longo da minha carreira me fazem ter a possibilidade de acumular experiência.

"Felizmente preparei a minha carreira para que não dependesse de ninguém"

A Universidade dá-nos o conhecimento, mas somos nós que temos que colocar o conhecimento em prática no dia a dia. Mais determinante que isso é o próprio contexto onde nós estamos. Convivi com atletas que foram do 8 ao 80. Aprendi muito com aqueles que estavam no 80, no ‘red line’, e procurei estar com aqueles que estavam no 8, que eram aqueles mais serenos e com a noção de que um dia a carreira iria acabar. Falta-nos claramente Educação financeira na Escola. É uma questão pessoal, mas é importante que os atletas olhem para quem que têm bons comportamentos e os bons comportamentos passam pela literacia financeira, que é um pilar fundamental. Tem que se olhar para os bons exemplos e perceber que não somos nós, muitas vezes que temos a liberdade de terminar a nossa a carreira e que há fatores externos. Temos que estar preparados para entrar no mundo do trabalho, mais tarde ou mais cedo esse dia vai chegar.