Primeiro estranhou o taekwondo, mas há menos de três anos a modalidade entranhou na vida da cabo-verdiana Maria Andrade e virou coisa séria, sendo um dos atletas apurados para os Jogos Olímpicos Rio2016.

Tímida, mas de sorriso fácil, cabelo comprido, autocaracteriza-se como sendo "magra". É assim Maria Andrade, mais conhecida por Zezinha, atleta cabo-verdiana apurada para os Jogos Olímpicos Rio2016 na modalidade de taekwondo.

Há três anos, Maria Andrade andava na escola na ilha de São Vicente e gostava de correr. "Ia a todos os lugares sempre a correr. Ia fazer compras sempre a correr. Corria desde pequena", lembrou à agência Lusa.

E foi graças a uma prima que teve o primeiro contacto com o taekwondo, há menos de três anos. "Antes não sabia nada sobre o taekwondo, modalidade que comecei a praticar porque não tive oportunidade de praticar atletismo", prosseguiu.

"O meu início no taekwondo foi como uma brincadeira. A minha prima chegou em casa e começou a falar de um senhor chamado Gilson Rodrigues que veio de Portugal e que dava treinos na zona de Ribeirinha. Ela disse-me que o senhor treinava para, no futuro, levar jovens para o estrangeiro. Gozava e dizia que o Gilson Rodrigues estava a enganá-los", contou.

Recordou que um dia a prima a levou para ver os treinos, estranhou os gritos e pontapés, mas, depois, um tal mestre Pina o mandou dar um pontapé que mudou a sua vida.

"A partir daí fiquei a ir só para ver e depois o mestre Joe de Pina veio para Cabo Verde e o meu irmão estava aí a dar pontapés e o mestre Pina disse-me para eu fazer o mesmo. Depois do primeiro pontapé ele [o mestre Pina] disse-me que eu tinha futuro no taekwondo, mesmo sem ter feito nenhum chuto antes", contou.

Depois disso, o mestre Pina convenceu Maria Andrade, agora com 23 anos, a prosseguiu os treinos, mesmo pelo meio ter que enfrentar gozos de colegas, falta de materiais e de apoios e pelo facto de ainda não saber todas as técnicas da modalidade olímpica.

"Mas depois apareceu o campeonato nacional e fui participar e ganhei o primeiro lugar", recordou, tendo ido há um ano e meio para os Estados Unidos, no lugar da também atleta Ana Cristina, que desistiu por motivos pessoais.

Nos Estados Unidos, Maria Andrade começou a treinar com o mestre Joe de Pina, que residente naquele país e um dos impulsionadores da modalidade em Cabo Verde.

Em fevereiro, depois de conquistar a medalha de prata no Torneio Africano de Taekwondo, que aconteceu em Marrocos, a atleta qualificou-se para os Jogos Olímpicos.

"Foi a maior experiência da minha vida. Foi uma surpresa para mim porque nunca tinha participado na qualificação para os Jogos Olímpicos", disse à Lusa, sublinhando o facto de ter conseguido o apuramento logo à primeira e por torna-se na primeira cabo-verdiana qualificada para os Jogos na modalidade de taekwondo.

Nos Jogos Olímpicos, a jovem atleta reconhece o poderio das adversárias, mas promete "dar o melhor" e "fazer tudo" para conseguir uma medalha para Cabo Verde.

"Neste pouco tempo evoluí muito, tenho confiança na minha pessoa, mas mesmo se não conseguir medalha quero ir lá fazer a minha melhor prova possível. Não quero fazer nada de errado", salientou a atleta, que compete na categoria de - 49kg.

Maria Andrade disse que teve de deixar de estudar para se dedicar ao taekwondo, mas garante que, um dia, quer prosseguir os estudos nos Estados Unidos.

A atleta disse que por agora está apenas concentrada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas assume que não haverá tempo a perder: vai começar a se preparar para os jogos no Japão, em 2018.

"Lá de certeza vou estar melhor preparada porque os treinos que faço são muitos intensivos", projetou a atleta, que pede mais apoios para o taekwondo, modalidade que começa a ganhar espaço em Cabo Verde.

"Antes o taekwondo não era uma modalidade muito considerada em Cabo Verde, mas agora estão a valorizá-la e gostaria que ajudassem mais os colegas porque merecem, treinam duro todos os dias e têm capacidade", disse, enaltecendo o apoio que tem tido de instituições como o Comité Olímpico cabo-verdiano (COC), o Governo e a Câmara Municipal da Praia.