Numa zona em que o futebol está disseminado, o hóquei começou a gerar entusiasmo na localidade em 2000, quando Nuno Flor, que, aos dez anos emigrou para os Estados Unidos da América, e aí praticou a modalidade no gelo, se instalou na terra da mãe e, com outros jovens, criou a equipa Vikings, que esteve em atividade durante sete anos e, graças à qual, quinzenalmente os adeptos lotavam o pavilhão.

Em 2017 a modalidade foi reativada pelos Vikings, secção do Grupo Cultural e Recreativo Castelense, e uma nova geração, nesta zona desertificada, começou a praticar hóquei em linha no pavilhão e em provas, mas a pandemia afastou atletas e, atualmente, há 15 jogadores na equipa sénior e 15 na formação, entre os sete e os 47 anos.

“No futebol há muitas equipas. Isto é o que eu sei fazer e é o meu contributo à sociedade”, disse, em declarações à agência Lusa, Nuno Flor, que dedica grande parte do seu tempo livre a uma modalidade cara, mas que quer ver mais gente a praticar, com o apoio do projeto Hóquei Para Todos, patrocinado pela Câmara Municipal da Sertã, Junta de Freguesia do Castelo e quatro empresas.

Com a equipa sénior “sem idade para ser competitiva”, “o foco está na formação”, para que dentro de três anos esses atletas possam jogar no escalão principal, mas “a única maneira é ter equipamentos” para ceder.

Nuno Flor, 47 anos, proprietário de uma oficina, explicou serem necessários, no mínimo, 300 euros para comprar o equipamento individual mais básico, um valor que mais do que duplica no caso dos guarda-redes. O material que os Vikings usam “é intermédio”.

“Numa zona onde os ordenados são baixos, não se pode pedir que se gaste o salário de um mês para comprar um equipamento”, realçou o responsável, segundo o qual se criou o Hóquei Para Todos “para dar a qualquer pessoa a possibilidade de praticar uma modalidade dispendiosa que, de outra maneira, dificilmente praticaria”.

Com o apoio da Federação de Desportos de Inverno foram comprados patins para o gelo e, além dos treinos em pavilhão, todos os domingos a equipa se levanta bem cedo e faz uma viagem de uma hora e meia para treinar na pista das Penhas da Saúde, na Serra da Estrela.

“Qualquer projeto de formação tem de ser um projeto social e, neste caso, tendo em conta que é um projeto caro, era necessário funcionar desta forma”, salientou Nuno Flor, que gostava de no futuro ter um programa de apoio ao estudo, onde os atletas pudessem ficar desde que saem da escola até ao início do treino.

Esta época, pela primeira vez, para “ajudar no empréstimo do equipamento”, e por uma questão “de compromisso”, o clube começou a cobrar uma mensalidade de cinco euros, dois euros no caso de um irmão e se forem mais não é pedido qualquer valor adicional, embora Nuno Flor garanta que, se não pagarem, não vão andar atrás das pessoas.

Marco Ribeiro, de 49 anos, descobriu o hóquei na adolescência, com os Vikings, e acentuou que na altura, “se não existisse essa gratuitidade, teria de desistir”. Agora, com as filhas Iara, de 13 anos, e Ema, de nove, também praticantes, as despesas seriam demasiado avultadas.

“É uma modalidade cara, pelo equipamento. Para iniciar, muitas vezes para experimentar, os pais não podem estar a investir. Sem esta ajuda, não seria possível iniciar”, referiu Marco Ribeiro, acrescentando que o equipamento das duas filhas ultrapassa os mil euros.

A possibilidade de esta época treinarem também no gelo “tem sido empolgante”. Iara, de 13 anos e jogadora de hóquei há cinco, adaptou-se facilmente à nova disciplina e à rapidez do disco, tal como Tomás e Martim Marçal, de 13 anos, que considerou “muito bom” poder jogar em linha e no gelo, afirmou, enquanto se equipava demoradamente com as volumosas meias, calções, caneleiras, patins, capacete, luvas, peitilho e cotoveleiras.