Os canoístas portugueses do K4 500 metros assumem-se como candidatos a um dos lugares do pódio nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, após beneficiarem de um ano extra de preparação e apesar das dúvidas sobre a vacinação contra a covid-19.
“Temos de ser ambiciosos e esta equipa sempre foi ambiciosa. Vamos lutar pelos lugares da frente, sem dúvida alguma. Claro que toda a gente está à procura das três medalhas, mas temos de acordar com o espírito de treinar para ganhar uma medalha olímpica e para conquistar o ouro”, afirmou o otimista Emanuel Silva, em declarações à Lusa.
Emanuel Silva segue na proa da preparação do K4 português, que integra ainda João Ribeiro, Messias Baptista e David Varela, rumo aos cerca de 01.15 a 01.20 minutos de pagaiadas decisivas na capital japonesa, acompanhada da incerteza quanto à imunização da comitiva lusa face à covid-19.
“O que me preocupa é a não vacinação, depois de termos esperado tanto pela vacina. Falo em nome do grupo, se tivermos a infelicidade de ficar infetados a um mês dos Jogos, acaba tudo. Essa é a nossa grande preocupação, o resto vem por acréscimo”, referiu, após um treino no Lago Azul, em Ferreira do Zêzere, no distrito de Santarém.
Até por já ter conquistado uma medalha olímpica, a de prata em K2 1.000 metros, em Londres2012, com Fernando Pimenta, Emanuel Silva é o porta-voz do otimismo luso, corroborado pelos estreantes Messias Baptista e David Varela, mesmo que o adiamento o faça chegar a Tóquio2020 com 35 anos.
Sobre a veterania, a resposta foi pronta, a idade não dificulta: “Temos de ver o lado positivo, foi uma mais-valia para nós, para nos prepararmos melhor para os Jogos Olímpicos. O pensamento contrário não se enquadra nesta equipa, não é para isso que treinamos, abdicamos de tanto tempo com a família”.
“Se formos a ver os lados negativos, vai ser mais um adversário para nós e já nos bastam os adversários que estão na linha de partida. Nós trabalhamos com o que temos, da melhor forma possível, temos de honrar os portugueses e fazer valer todo o empenho de Portugal nos atletas olímpicos. Por isso mesmo, temos de fazer com que os portugueses se sintam orgulhosos dos atletas que vão aos Jogos Olímpicos lugar pelo melhor resultado”, rematou.
Aos 21 anos, Messias Baptista reiterou os benefícios para a embarcação lusa da marcação dos Jogos para 2021, até porque o “K4 é o barco mais difícil de preparar, porque envolve quatro pessoas”.
“Na minha opinião, sim. Como sou novo, a minha margem de evolução acaba por ser maior do que a dos outros e considero que este adiamento foi benéfico”, sublinhou o canoísta do Benfica.
Além de adiar os Jogos, a pandemia de covid-19 suspendeu praticamente na totalidade o calendário competitivo, pelo que a preparação é feita contra o relógio e, por vezes, perante outras seleções que partilhem locais de treino.
“Por acaso, nós temos a vantagem de, muitas vezes, fazermos estágios com a equipa espanhola, que é uma das referências na canoagem”, realçou Messias Baptista, admitindo que, em treinos, as ‘vitórias’ são divididas entre os rivais ibéricos.
David Varela, de 27 anos, enalteceu a importância do “entrosamento” e a “união de equipa” lusa, assegurando a qualidade da preparação.
“Tivemos de nos habituar a uma nova realidade, estamos ansiosos, como é óbvio, mas tivemos mais tempo para nos prepararmos. Agora é esperar, faltam menos de cinco meses para os Jogos e estamos conscientes do trabalho que estamos a fazer”, referiu o antigo canoísta do Sporting.
Depois do sexto lugar no K4 1.000 metros no Rio2016, João Ribeiro encara esta preparação “passo a passo”, tendo em vista, primeiro, um lugar na final olímpica.
“Depois, é dar o nosso melhor e ver o que conseguimos. Num dia bom, as coisas podem cair para nós, há uma série de seis, sete barcos que podem lutar pelas medalhas, não somos os únicos. Estamos nesse lote e nós acreditamos”, vincou João Ribeiro.
Essa confiança é alimentada pela avaliação do treinador do K4 500 nacional, Rui Fernandes.
“Estamos ausentes da competição há muito tempo, mas conseguimos avaliar em treino se a preparação está no melhor sentido. Sabemos que vai, mas a ansiedade por falta de competição existe, queremos fazer o que gostamos, que é competir”, explicou.
O técnico reconheceu o “crescimento” deste K4, entre 2018 e 2019, “quando se apresentou como uma das melhores do mundo”, recordando que ficou a 0,15 segundos das medalhas no Mundial de 2019, quando conseguiu o apuramento olímpico.
“Vamos encontrar nos Jogos Olímpicos as melhores 10 embarcações do mundo, com diferenças mínimas, dá para pensar que podemos alcançar a final e sonhar com uma medalha”, concluiu.
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