O campeonato nacional de todo-o-terreno tem tido, este ano, cada vez mais participantes na categoria de ‘buggy’ (SSV), um aumento que se explica pela competitividade e pelos baixos custos.

Os SSV são veículos utilitários ou de recreação que têm sido cada vez mais utilizados em provas de todo-o-terreno (TT), e na temporada de 2017 os números têm sido muito altos, com um total de 63 pilotos a conseguirem pontuar em pelo menos uma das seis provas do nacional de TT até ao momento.

No próximo fim de semana, em Portalegre, na 31.ª edição da Baja alentejana, além da disputa pelo título nacional, destaca-se a presença nos SSV do francês Stéphane Peterhansel, 13 vezes vencedor do Dakar, seis vezes nas motos e sete nos carros.

Antes da derradeira prova do Nacional de TT, Bruno Martins (Can-Am) lidera, com 94 pontos, contra os 76 de João Monteiro, segundo classificado e único piloto que ainda pode ameaçar o título, à procura de emular um feito já alcançado pelo pai, Jorge, campeão na classe em 2010 e 2014.

Martins entrou na liderança ao vencer a corrida inaugural, em Góis, mas Monteiro venceu a sexta e penúltima ‘baja’, em Idanha-a-Nova, e relançou a luta, numa categoria em que cinco pilotos venceram as seis corridas até agora.

João Lopes (Polaris) venceu duas, em Loulé e Reguengos, e somou um ponto em Idanha-a-Nova, sendo sexto à geral, enquanto Pedro Grancha (Can-Am), que em 2006 venceu o título de TT nos automóveis, levou de vencida a Baja Pinhal.

O presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), Manuel Marinheiro, explicou à Lusa que a classe é “muito competitiva” e que o campeonato chega à última prova “ainda em aberto, com vários pilotos que já ganharam outras corridas a poderem intrometer-se nos primeiros lugares”.

Ao todo, são 63 corredores com pelo menos um ponto conseguido nas seis provas disputadas até ao momento no Nacional de TT, contra 15 nos ‘quads’, 46 nas motos e 23 nos carros.

A questão dos custos é um fator decisivo para a participação de mais pilotos na classe, tendo em conta a “diferença brutal” para os carros, bem como a “diversão” proporcionada.

“Em determinadas provas, até são capazes de conseguir melhor tempo do que outras categorias”, acrescentou o dirigente, que destacou a diferença no número de pilotos que conseguiram pontuar no campeonato.

Rúben Faria notabilizou-se nas motos, com o segundo lugar no Dakar em 2013, mas voltou à competição nos SSV, uma vez que o veículo “não está muito longe da mota” e tem um campeonato “a crescer em Portugal e com grande aceitação a nível mundial”.

Segundo o piloto, que é 14.º na tabela de SSV, as motas têm vindo a perder participantes porque “é quase preciso fazer vida de profissional”, e os carros “saem completamente da realidade financeira de quase toda a gente”.

“O SSV é uma coisa a meio dos dois, não é tão perigoso como a moto e é muito mais barato do que o carro. Quem tem a adrenalina no corpo, pode investir num SSV, por isso é que está a ter aceitação”, considerou o piloto, que lembrou que as diferenças de tempo entre os SSV mais rápidos e os carros chega a ser de poucos segundos.

Segundo Rúben Faria, os veículos “são muito parecidos uns com os outros”, o que desperta “uma competitividade muito grande entre todos, com um vencedor diferente quase sempre, porque não há um que tenha melhor carro do que outro piloto”.

Quanto aos valores, a participação no campeonato de TT implica um orçamento entre “os 60 e os 70 mil euros”, comprando um veículo novo, um valor que pode baixar “quase para metade” ao comprar um usado.

Para o antigo ‘motard’, o campeonato português de SSV “é de longe o melhor da Europa, é espetacular”, e a nível mundial só fica atrás “do norte-americano e do australiano, que são muito fortes”.

Também na questão dos patrocínios o SSV “permite mais retorno em relação à mota, há mais espaço e permite fazer ‘codrives’”, uma modalidade em que um cliente ou parceiro pode entrar no SSV e ser conduzido pelo piloto.

Na liderança do campeonato, Bruno Martins disse à Lusa estar “tranquilo” à entrada para a última prova, e deixou elogios ao campeonato e aos próprios veículos, que apresentam como "segredo do sucesso" uma mistura entre “facilidade de condução e baixos custos”.

“Desde 2008 que tem evoluído, com oscilações, mas sempre com crescimento. Os carros também foram evoluindo, e as marcas têm apostado nestas viaturas. Se calhar, o futuro avizinha-se promissor para esta classe”, explicou o piloto, que apontou um orçamento “dependente dos objetivos e dos carros”, que pode andar “entre os 10 mil e os 50 mil, isto sem a aquisição da viatura”.

Ambos os pilotos têm visto mais entusiasmo do público, que tem tido “uma participação massiva nas provas, também por serem muitos pilotos”, apontou Bruno Martins, que referiu ainda a “grande competitividade como fator de interesse”.

“Os SSV este ano deram um salto muito grande a nível de competitividade e quantidade, e este ano estão com um andamento que não tinham. Antigamente, ainda antes de entrar, via passar e aquilo ia um bocado morto, hoje em dia já vês ‘buggies’ a andar bem”, referiu Rúben Faria.