O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 já tinha tido provas adiadas e canceladas devido a acidentes, problemas económicos e crises políticas, mas nunca teve uma época com tantas provas afetadas como em 2020.

A pandemia de COVID-19 provocou já o cancelamento dos Grandes Prémios da Austrália e do Mónaco e o adiamento das corridas do Bahrein, Vietname, China, Países Baixos, Espanha, Azerbaijão e Canadá.

São nove das 22 provas inicialmente previstas para o calendário a ser afetadas por esta pandemia, que pode ditar o Mundial mais curto desde 1972, ano em que o campeonato teve apenas 12 corridas.

“Aparentemente, a Fórmula 1 sempre se viu como ‘grande de mais para problemas comuns’. Houve F1 depois do 11 de setembro [em 2001), com os SARS [outros coronavírus no século XXI], o que parece ser uma norma absoluta, mas houve alguns cancelamentos na história”, recorda Paulo Reis Mourão, docente e investigador da Universidade do Minho e que publicou o livro “The Economics of Motorsports: The Case of Formula One” – ‘A economia do desporto motorizado: o caso da Fórmula Um’.

Se na primeira década da competição, que se realizou pela primeira vez em 1950, era comum o calendário ser mais dinâmico e ir sendo adaptado à medida que a temporada decorria, foram poucas as provas canceladas por eventos externos à competição.

O último GP cancelado tinha sido o do Bahrein, em 2011, “devido à Primavera Árabe”, recorda o investigador. Houve, contudo, outras provas canceladas por motivos de segurança.

Um dos episódios mais famosos foi o do cancelamento do GP da Bélgica de 1969, devido a uma posição de força da recém-criada Associação de Pilotos (GPDA), liderada pelo britânico Jackie Stewart, a exigir alterações ao traçado por questões de segurança. As alterações não avançaram e a corrida também não.

O mesmo GP da Bélgica viria a ser cancelado também em 1985, já depois de realizados os treinos livres e a qualificação, por questões de segurança.

Duas semanas antes da prova, os responsáveis do circuito mandaram asfaltar todo o traçado, que não aguentou quando os carros de F1 começaram a testar os limites nos treinos livres.

Ainda se colocaram alguns remendos, mas os treinos de qualificação de sábado foram cancelados pouco depois de começarem e a corrida foi mesmo suspensa.

De 1983 a 1985 esteve também previsto um GP em Nova Iorque, que nunca chegou a realizar-se por falta de acordo de verbas entre o detentor dos direitos comerciais da F1 da altura, Bernie Ecclestone, e os responsáveis da cidade.

Também por questões económicas já tinham sido cancelados, em 1957, os Grandes Prémios da Bélgica e dos Países Baixos. Nesse caso, o problema relacionou-se com a crise do Canal do Suez, que durou de outubro de 1956 a março de 1957, e que provocou o racionamento do petróleo e, consequentemente, dificuldades económicas.

Os organizadores tentaram negociar com as equipas uma redução do prémio de participação, o que foi recusado; consequentemente, as corridas foram canceladas.

Avançou, então, a cidade italiana de Pescara para manter o campeonato com oito provas.