Em isolamento desde dia 12 de março, Miguel Barbosa tem enfrentado um novo desafio 'dentro de portas'. Longe do carro, o piloto de todo-o-terreno tenta manter a rotina de treino, enquanto equilibra o confinamento com três filhos.

Em entrevista ao SAPO Desporto, Miguel Barbosa explicou como tem passados os dias, admitiu qual a parte mais difícil deste isolamento e revelou que dentro de alguns dias deve regressar ao volante do teu Toyota.

Sete vezes campeão nacional de todo-o-terreno, Miguel Barbosa foi ainda o vencedor da última prova disputada em Portugal antes do país entrar em estado de emergência.

Como tem vivido este período de isolamento?

Relativamente bem, porque cá em casa estamos todos de boa saúde e isso é, sem dúvida, o mais importante. Mas, por outro lado, é algo com que nunca lidámos antes, por isso é bastante difícil estarmos confinados. É um misto de sensações, mas sinto-me sobretudo grato por estar tudo bem e por estarmos a passar por este momento em boas condições.

Como é passar o isolamento com crianças?

Desde dia 12 de março que estamos em confinamento e a escola dos meus filhos fechou ainda antes de ser decretado o encerramento oficial, por isso a partir desse dia ficámos todos em casa. Eu tenho três filhos, com três, oito e dez anos. É difícil manter três crianças em casa ocupadas. Agora com a escola à distância eles estão um bocadinho mais ocupados, mas continuam a precisar de apoio. Gerir tudo ao mesmo tempo não é tarefa fácil, mas temos de nos adaptar.

Como tem sido treinar em casa?

Mantive o treino físico diário. Todas as manhãs treinava e acho que foi fundamental manter esta regularidade de treino porque é uma rotina muito importante, tanto para o corpo como em termos mentais. Acho que foi essencial nestes dias longos. Cá em casa tentei sempre incutir esta rotina porque os miúdos estão habituados a fazer muito desporto e assim evitou-se uma quebra súbita. Além disso é algo que sempre os distraía e faz-lhes bem também a nível físico. Por isso tudo, foi uma rotina que quisermos sempre manter cá em casa. Eu obviamente mantive sempre mais esta parte e esta semana já fiz um treino fora de casa, com o meu treinador, numa área resguardada e com todas as condições para o fazer. Para já vamos continuar a treinar nestas condições, mas aos poucos vamos tentar voltar à normalidade. Já os treinos com o carro foram zero. Não tem havido nada, mas a partir de agora já é permitido e eu espero retomar o mais rapidamente possível para desenferrujar um bocadinho e para voltar a ativar os reflexos, porque por muito que se treine essa parte, nunca é a mesma coisa que conduzir. Espero na próxima semana já conseguir retomar os treinos a guiar.

Miguel barbosa no Baja Portalegre
A dupla portuguesa Miguel Barbosa e Pedro Velosa em ação durante o prólogo da 33.ª Baja Portalegre 500, disputado na Herdade das Coutadas, em Portalegre, 25 de outubro de 2019. NUNO VEIGA/LUSA créditos: © 2019 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Como tem sido o seu dia-a-dia?

O dia começa por orientar os miúdos aqui em casa. A minha mulher está em regime de teletrabalho. Ela trabalha em recursos humanos numa multinacional bastante grande, por isso está muito sobrecarregada neste momento. Tentamos orientar os miúdos para começarem a escola, a seguir eu vou fazer o meu treino e depois trato daquilo que for preciso a nível de trabalho no computador. Dentro daquilo que é possível fazer, tendo em conta que a nossa atividade parou por completo. Tenho estado em contacto com a Federação, com os clubes e com a equipa. Tentamos manter as coisas organizadas para o nosso eventual regresso. Uma das prioridades também tem sido estar em contacto com os meios de comunicação para tentarmos manter o nosso retorno, obviamente que de uma forma diferente. E tento também manter o contacto nas redes sociais, com os fãs. Os nossos dias são passados assim, claro que há sempre aquelas situações pontuais, mas é um bocadinho mais do mesmo todos os dias.

Quais as maiores dificuldades do isolamento?

Para um desportista que está disposto a praticar sempre ao ar livre, a andar de um lado para o outro e a participar em competições, a parte mais difícil tem sido a ansiedade de esperar sem ter um regresso definido. Não termos uma data de regresso definida tem sido de facto a parte mais complicada. Temos a felicidade de estar tudo bem em termos de saúde, estou agradecido nesse aspeto, mas estou preocupado pela minha atividade. Estou completamente a zero porque tudo o que é competição está parado. Aguardamos ansiosamente por saber quando é que vamos conseguir retomar as competições porque os atletas vivem disso. Vivemos de objetivos e para isso temos de estabelecer metas, datas e mesmo as corridas em si. Mas acho que mesmo assim temos sorte porque as competições de desporto automóvel se disputam ao ar livre, no meu caso do todo-o-terreno ainda mais. A Federação vai em breve reunir as comissões de trabalho, eu faço parte da de todo-o-terreno, para se começar a agendar o regresso aos campeonatos, assim que seja permitido pelo Governo. Acho que vai depender muito deste desconfinamento.

Como acha que será o regresso à competição?

Acho que vai ser ótimo, mas acho que tem de ser muito bem planeado. Grande parte do campeonato que se disputava na primeira do metade não se realizaram portanto acho que é preciso ter muito cuidado ao remarcar aquela que será a segunda fase do campeonato para não hipotecar 2021. 2020 já saberemos que será um ano que fica atípico para sempre e tem de ser encarado e gerido dessa forma. Não podemos tornar 2020 num ano normal porque não será por vários motivos, por aquilo que aconteceu, pelas dificuldades económicas que aí vêm, enfim, por uma série de coisas às quais estamos todos ainda muito restringidos. Acho que o desporto tem de ter a capacidade de análise e remarcar apenas aquilo que é possível dentro da realidade que vivemos atualmente. Acho que temos sobretudo de nos preparar muito bem para 2021. Isso é o mais importante em termos de foco: ter um plano que não belisque em nada o próximo ano.

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