Os principais pilotos portugueses compreendem o cancelamento do Rali de Portugal, face à pandemia de covid-19, enquanto aguardam o regresso do Nacional, numa “modalidade com condições únicas de segurança".
Armindo Araújo, vencedor do Rali de Portugal em 2003 e 2004, e português mais bem classificado na edição de 2019, aceitou a decisão de anular a etapa portuguesa do Mundial de ralis, porque "a saúde está em primeiro lugar".
"Para mim, do ponto de vista desportivo é difícil, pois gostava muito de poder fazer o rali. Mas devemos dar prioridade à saúde pública. O desporto está em segundo lugar", apontou o pentacampeão nacional de ralis e campeão mundial do agrupamento de produção em 2009 e 2010.
Também José Pedro Fontes, campeão nacional em 2015 e 2016, recebeu o cancelamento "com muita tristeza" mas diz compreender "a situação".
"Sabemos o esforço que o Automóvel Club de Portugal (ACP) fez para viabilizar a prova. Agora, para o país e para o desporto em Portugal é um problema. Movimenta muito a economia e no desporto é o nosso maior evento", sublinhou.
Já o atual campeão nacional, o algarvio Ricardo Teodósio, reconheceu que "foi uma decisão mais do que acertada".
"É chato ser cancelado o rali mas, devido ao que se está a passar com a pandemia foi uma decisão mais do que acertada. As pessoas não têm bem a noção do que isto é, andam a brincar, querem é sair de casa. Todos deveriam usar máscaras e luvas quando se sai de casa para não contagiar ninguém", disse Ricardo Teodósio, em declarações à agência Lusa.
No entanto, Teodósio admitiu, também, que já viu dois patrocínios cancelados e que terá outros "renegociados".
"Já tive cancelamento de dois patrocínios porque não vamos fazer corridas e eles não têm capacidade de momento. E outros que temos, com contratos assinados, estão à espera de ver o que vai acontecer, mas os valores não vão ser os mesmos", explicou.
Por isso, defende que o campeonato deveria ser transformado "numa Taça Nacional, com três ou quatro provas", porque "sem dinheiro, não dá para correr".
Por outro lado, José Pedro Fontes e Armindo Araújo defendem o regresso de um campeonato "com condições ímpares para enfrentar o isolamento social".
"Os ralis têm uma vantagem muito grande porque temos troços de 20, 25 quilómetros. Temos de nos adaptar a não ter superespeciais citadinas nem muita gente nos parques fechados. Hoje, com distanciamento social, temos um desporto que se adapta a essa situação", frisou Armindo Araújo.
"Tudo terá uma data em termos de segurança. Mas depois de definir os requisitos mínimos, os ralis poderiam avançar com baixo risco de contágio", sublinhou o campeão nacional em 2003, 2004, 2005, 2006 e 2018.
José Pedro Fontes partilha da mesma opinião.
"Se limitarmos as situações de grande aglomeração de pessoas, como parques de assistência ou cerimónias de pódio, o público pode estender-se por quilómetros. Cabe aos desportos ou federações criarem essas condições. Vejo poucos desportos que tenham esta capacidade para se praticarem", vincou, enaltecendo que atividades lúdicas, como os ralis, conferem alguma “normalidade às pessoas, dentro desta anormalidade”.
Com a declaração de pandemia, em 11 de março, inicialmente alguns eventos desportivos foram disputados sem público, mas, depois, começaram a ser cancelados, adiados – nomeadamente os Jogos Olímpicos Tóquio2020, o Euro2020 e a Copa América – ou suspensos, nos casos dos campeonatos nacionais e provas internacionais de todas as modalidades.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 227 mil mortos e infetou mais de 3,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 989 pessoas das 25.045 confirmadas como infetadas, e há 1.519 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).
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