O apelido chamou as atenções. Textor. A idade, 61, também.

Tab Textor, foi eliminado na ronda inaugural da 10.ª edição do Caparica Surf Fest, última etapa do Qualifying Series (QS), circuito regional europeu de 2024/2025 da Liga Mundial de Surf (WSL), a decorrer na praia do Paraíso.

Aos 61 anos, é o surfista mais velho no circuito continental da WSL. Tab Textor inscreve-se em eventos da terceira divisão do surf mundial desde 2018 (começou aos 54 anos). Portugal tem estado na sua rota após a pandemia. É a terceira vez na etapa da Costa de Caparica e já competiu, em duas ocasiões, em Santa Cruz, Torres Vedras.

“Pode escrever. Sou o único avô na história do tour (WQS)”, disse, em tom de orgulho. “Tenho um neto da minha filha Olivia. A Delaney é a minha filha mais velha e Chloe, segunda filha, é ranger num Parque Nacional no Alasca”, contou.

Em sete temporadas, Tab Textor surfou 40 etapas do circuito regional europeu e americano (norte e sul), sem alcançar qualquer vitória num evento.

Após completar o heat 6 da ronda de abertura do Caparica Surf Fest, permanece plantado entre as tendas de atletas e de convidados. De fato de surf vestido e chapéu bem enfiado na cabeça, conversa com quem percorre aquele pedaço do paredão com vista para a praia do Paraíso, onde amanhã, sábado, termina o QS europeu.

A boa comida em Portugal e resultados em segundo plano

Os resultados são “secundários”, assegurou ao SAPO Desporto após ter surfado só uma onda merecedora de uma pontuação de 1,50 pontos, em 20 possíveis.

“Mas muitos destes miúdos morreriam se surfassem nas ondas grandes de Pipeline, como eu faço”, contrapõe o avô do tour que esperava e desejava aproveitar “a tempestade” para ir ao Canhão da Nazaré na companhia do big rider português, Nic Von Rupp.

Tab Textor, surfista e skater
Tab Textor, surfista e skater Tab Textor, surfista e skater

“Todos estes surfistas estão pressionados pela vitória, eu venho pela comida. Adoro o restaurante Sentido do Mar”, informou. “Mas também como muita porcaria e muitos doces. É para me sentir um jovem de 40 anos, a idade com que me sinto, apesar de já ter mais de 60”, soltou uma gargalhada.

Das cerca de “40 pranchas” que guarda em casa, na Caparica usou uma especial. “Era do Jordi Smith”, sul-africano que regressou aos triunfos, oito anos depois, na etapa de El Salvador do circuito de elite (CT) da Liga Mundial de Surf.

“Estou aqui para forçar-me a ser mais técnico e para perder peso...e pode escrever. Fui o primeiro a fazer aéreos, em março de 1978, embora o crédito tenha ido para outro”, sublinhou Tab Textor cujo percurso e palmarés no skate - é mais reconhecido, assim como o apelido.

O irmão John, o Botafogo e o skate

Levanta o véu da parentalidade, embora soubesse, de antemão, não ter necessidade de o fazer. “Não sei se conhece o meu irmão, toda gente conhece”, questionou desconfiado à espera de uma resposta afirmativa.

Não esperou. “Deveriam ter deixado o meu irmão (John Textor), comprar a equipa (Benfica),” disparou.

Transformaria o clube em número um”, disse. “Tal como fez com o Botafogo, transformou-o em número um”, exemplificou, ao relembrar o título no Brasileirão - e na Taça dos Libertadores -, troféus conquistados pelo emblema brasileiro já sob administração de John Texton.

O multimilionário norte-americano fez fortuna nas tecnologias e é hoje dono e acionista de referência de alguns clubes de futebol, mais precisamente, Botafogo, Crystal Palace, Olympique Lyonnais e RWD Molenbeek, participações concretizadas através da empresa Eagle Football Holdings Limited.

Se Tab enaltece as capacidades do irmão, os louvores viajam nos dois sentidos e John Texton, 59, deixa elogios públicos a Tab enquanto este compete com a prancha nos pés com vetusta idade.

Tab faz uma pausa para falar da sua ligação ao skate, modalidade em que o seu irmão John, dois anos mais novo, se destacou profissionalmente na juventude. Ainda hoje, o bilionário norte-americano que falhou a aquisição de uma posição na SAD do clube da Luz dança em skateparks.

O caminho filantrópico depois dos milhões

Tab e John partilharam parques e manobras. “Crescemos em Palm Beach, na Florida. Construí o segundo parque de skate no mundo, o Skateboard Safari, em janeiro de 1977”, recordou.

Deixa a prancha e saltou para a vida profissional. “O meu pai foi fundador do JFK Hospital. Deveria ter ido para médico”, sorriu. Não foi. “Estive ligado ao ramo imobiliário, em Palm Beach County, mesmo ao lado de Donald Trump”, presidente norte-americano. “Tenho melhor aspeto que ele, mas ele tem uma mulher mais bonita”, admitiu.

“Ganhei milhões, tenho investimentos em ações, tenho um skate park, vou construir skate parks e reiniciei a minha empresa de surf em Palm Beach. Estou a construir uma fábrica em Belo Horizonte, Brasil e Miraflores, Peru”, notificou.

De vida feita e bem na vida, ajuda alguns surfistas. “Quando chegamos a uma idade um pouco mais velha, é bom estar no caminho filantrópico”, assumiu ao realçar o seu estado de alma. “Tenho uma vida muito feliz e nunca desacelerei”, finalizou.