Tiago Torres, de 20 anos, não coube em si de contente depois de ver o seu nome entre os eleitos do ténis para participar nos Jogos Mundiais Universitários, que se vão disputar na cidade chinesa de Chengdu, entre os dias 28 de julho e 8 de agosto. Estudante de Gestão na Universidade do Texas/San Antonio, sente que é nos Estados Unidos que tem todas as condições para conciliar a vida desportiva com a Académica, isto numa cultura em que o desporto tem outro peso na sociedade. Em entrevista ao SAPO Desporto, o jovem atleta mantém os pés no chão e prefere pensar etapa a etapa. O objetivo é abraçar o profissionalismo na modalidade, mas se tal não for possível, está a trabalhar para dispor das ferramentas necessárias para abraçar o mercado de trabalho.

SAPO Desporto: Como é que tomaste a decisão de ir para o Estados Unidos

Tiago Torres: Eu antes de ir para o Estados Unidos estive a estudar numa universidade portuguesa, no ISEG, porque reconheço que os estudos são muitos importantes, e o desporto não dura para sempre. Tentei fazê-lo no primeiro ano, conciliando o ténis com a Universidade, mas aqui em Portugal é muito complicado. As universidades portuguesas são muito boas, mas muito exigentes. Mas para tentar ser profissional é praticamente impossível e então ou deixava o ténis ou ia para os EUA e optei por ir para lá.

SD: Quais foram as condições que encontraste?

T. T: Estou lá há um ano e meio e as condições são muito boas, algo que nunca vi cá. Eles têm uma cultura muito diferente em relação ao desporto, não é por acaso que somam tantas medalhas olímpicas. Não é só porque têm muita gente, mas porque trabalham muito bem. E o desporto acaba por ter prioridade em relação à parte Académica. Qualquer desportista que represente a Universidade tem sempre muito mais benefícios que um aluno normal, os horários são ajustados aos compromissos dos atletas. A título de exemplo, a minha Universidade [Texas/San Antonio] tem 40 mil estudantes e só depois é que fazem os horários para os estudantes normais. Está a ser uma experiência muito diferente.

"Eles têm uma cultura muito diferente em relação ao desporto, não é por acaso que somam tantas medalhas olímpicas"

Basicamente nós fazemos os exames quando podemos e temos uma Academic Adviser, uma pessoa que nos guia e que em todos os semestres envia-nos os horários, o nosso calendário que são também enviados aos professores, para eles saberem que temos exames, e basicamente eles sabem disso e ajustam consoante o que é melhor para nós. E se estamos cansados, ou temos algum problema físico, enviamos email ao professor, ele responde-nos muito rapidamente e dizem que podemos ficar em casa, são muito acessíveis.

SD: A nível de ajuda financeira, qual é a diferença em relação a Portugal?

T.T: Eu nunca tive muitas ajudas monetárias, mas agora tenho uma bolsa para estar nos Estados Unidos, senão não tinha capacidade para estar lá. São necessários 40 ou 50 mil dólares por ano, e eles pagam quase todas as despesas. Tenho que pagar metade da casa, numa despesa de 400/500 euros por mês. Oferecem-te tudo, comida, educação, livros e materiais e a única coisa que tens que pagar é a casa e o que como fora da universidade. As universidades também recebem muitas doações, de antigos alunos. Para se ter um exemplo, recebeu no ano passado uma doação particular de 40 milhões de euros, de uma ex-aluna.

"Qualquer desportista que represente a Universidade tem sempre muito mais benefícios que um aluno normal"

SD: E nos Estados Unidos as pessoas acompanham o desporto universitário?

T.T: No ténis, em Portugal, praticamente ninguém vê os nossos jogos. Nos Estados Unidos as pessoas vão ver por causa da universidade. No nosso futebol americano em quase todos os jogos estão 50 mil, 60 mil pessoas a ver um jogo. Não estamos a falar de nível profissional, mas de universitários. Cá só se vê isso, nos jogos de Benfica, Sporting ou FC Porto.

Estás a tirar o curso de gestão, já pensas no pós-carreira?

SD: O meu objetivo é tentar ser profissional, e tentar jogar profissionalmente já com o curso feito, e a seguir ao pós-ténis. Sou sincero o meu objetivo não passa por ficar fechado num gabinete a exercer gestão. Mas ainda não pensei muito nisso.

SD: Como divides o teu tempo, passas a temporada inteira nos Estados Unidos?

T.T: Em média, faço oito meses lá, quatro cá. De janeiro a maio nos Estados Unidos, de maio a agosto em Portugal. Depois volto para lá a meio de agosto, estou lá até dezembro, regresso cá e volto a meio de janeiro.

SD: Como é conciliar os estudos com a competição?

T.T: Nos Estados Unidos já me tinham dito que era mais acessível que na Universidade aqui em Portugal, mas acho que o mais difícil mesmo é ir treinar e depois ir para a aulas e manter a atenção. Há exames e temos que aproveitamento escolar, senão cortam-nos a bolsa e acho que isso é o mais difícil. Mas a adaptação foi facilitada pelo facto de ter lá o Tomás Pinho (tenista), que é um grande amigo.

Expetativas para os Jogos Mundiais Universitários

T.T: Não conheço os meus adversários, mas pelo que tenho visto nas competições anteriores há muita qualidade. É pensar jogo a jogo, dar o nosso melhor e se for possível chegar a alguma medalha vamos tentar.

SD: Como é que tens visto o crescimento do ténis português nos últimos anos? Tivemos o Frederico Gil, o João Sousa e agora temos o Nuno Borges em grande nível.

T.T: Eu conheço o Nuno Borges, é uma pessoa muito humilde, por isso está a alcançar tanto. O Nuno ainda tem muitos anos pela frente, mas de certeza que vai ter uma carreira cheia de bons resultados. Em relação ao João Sousa e ao Frederico Gil já joguei com eles dois também, não os conheço tão bem, mas são ídolos. É fantástico o que o João Sousa tem dado ao ténis português. Toda a gente que fala sobre ténis, fala sobre o João Sousa. É muito por causa dele, que temos o nível de ténis que temos, porque houve muitas pessoas, devido a ele, que começaram a jogar ténis.

SD: Já tiveste uma experiência semelhante à que vais viver nos Jogos Olímpicos da Juventude?

T.T: Eu com 14 anos fui aos Jogos Olímpicos da Juventude, não foi através da FADU mas através do Comité Olímpico. Na altura era dos mais novos, mas desta vez vou desfrutar de outra forma. Por isso quando apareceu esta oportunidade disse logo que queria ir.

SD: Ir aos Jogos Olímpicos é um objetivo?

T.T: Cada coisa a seu tempo. Para ir aos Jogos pelo menos tenho que estar nos 100 melhores do mundo e até lá ainda há muito trabalho a fazer.