Costa, Pires de Lima e Alves são apelidos dos três pares de irmãos velejadores da seleção de Portugal nos Mundiais de Haia, unidos em busca do sonho olímpico, munidos de espírito de equipa, altruísmo e cooperação.
“Não acho muita piada - e o Diogo provavelmente também não - à ideia de que, para eu ir aos Jogos Olímpicos, o meu irmão, que era meu colega de equipa, não ir. Que a minha alegria seja a tristeza do outro. Tanto quanto possível, é lutar os dois para estarmos em Paris2024 e não um em casa. A realidade é que provavelmente ele vai aos Jogos e eu fico em casa”, disse, à Lusa, Pedro Costa, explicando um dos motivos pelos quais mudou de classe.
Pedro e o irmão Diogo estiveram juntos em Tóquio2020, onde foram 15.º na classe 470, que neste ciclo olímpico virou misto, obrigando assim à sua separação: Diogo manteve-se na classe, com Carolina João, tendo já garantido Paris2024 nestes Mundiais de Haia, enquanto Pedro se juntou ao jovem menos experiente João Bolina em trabalho mais árduo no 49er.
“Primeiro, está a alegria por ele conseguir. Trabalharam imenso e têm muito mérito. Não me incomoda que ele vá e eu não. Quem me dera poder ir, mas acho que, provavelmente, não vou conseguir. Tenho a certeza de que o Diogo também gostava muito que eu fosse e gostávamos mesmo de repetir a ida juntos, mas não conseguimos fazer o impossível”, resignou-se, agora que o 470 é misto.
Enquanto o irmão passa uns 200 dias em trabalho no exterior, com o treinador Aaron Sarmiento, Pedro não tem podido usufruir de grupos de treino internacional que potenciam a evolução, pelo que são muitas mais as vezes em que conversam ao telefone do que as que se vêm em casa, no Porto.
“Trabalha tanto na vela que vai pouco a casa. Ajudamo-nos muito, partilhamos as experiências um do outro e aconselhamo-nos mutuamente. Em casa, cruzamo-nos pouco, ele quase nunca está”, reforçou.
Tomás e Mafalda Pires de Lima mudaram-se para o kite para fazerem equipa na estafeta mista, contudo as regras internacionais também mudaram e a classe passou a separar os sexos, contrariedade que não os impede de continuarem a ajudar-se permanentemente.
“Somos mais de cooperar, não competimos um com o outro. Ela tem uma desvantagem natural, que é o peso [10 quilos a menos do que o ideal], que faz grande diferença na nossa classe, mas tento ajudar como puder e vice-versa”, assume Tomás à Lusa.
Garante que, apesar dos “feitios muito diferentes, quase opostos”, os irmãos são “bastante parecidos na determinação e na vontade de atingir os objetivos e tudo fazer para os concretizar”.
“Não competimos diretamente um com o outro, pelo que cooperamos mais do que nos ‘picamos’. Ele é persistente, muito trabalhador, bem focado no que faz. Vou mais com as minhas emoções, sou mais de sentir as coisas com o meu feeling e ele mais metódico. Há divergências, cada um puxa para o seu lado, mas completamo-nos e ajudamo-nos bastante”, acrescenta Mafalda.
Tiago Alves diz que ouviu muitas vezes o alerta "com o irmão não resulta, estão sempre às turras”, mas discorda totalmente desta ideia pré-concebida, garantindo que este 49er começou há quase 20 anos.
“Damo-nos bastante bem. Desde 2004, quando ele nasceu, que somos uma equipa. Sempre fomos uma equipa em tudo, pelo que foi um passo natural velejarmos juntos. Estamos super à vontade um com o outro. Podemos desentender-nos, mas continuamos a gostar um do outro”, vincou.
Tiago, o mais velho, realça o superior “talento natural” do familiar, compensado com “esforço” acrescido do seu lado: “Ele é o prodígio e eu o mais estudioso”.
Ricardo Alves revela que, “no stress enorme das regatas, por vezes há um grito ou outro”, contudo a dupla mantém “sempre o foco” e releva esses detalhes.
“Mesmo que a regata não corra bem, não guardamos rancor. Resolvemos durante ou depois da mesma. Complementamo-nos: o que um não tem, dá o outro. Nunca um de nós fica bem e o outro em baixo”, conclui Ricardo.
Até ao momento, Portugal garantiu nos Mundiais de Haia, a primeira de três fases de qualificação, a presença da classe 470 em Paris2024, através de Diogo Costa e Carolina João.
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