O acidente que a McLaren tanto temia, mas que todos os outros aguardavam, não vai mudar a abordagem da equipa, apesar dos pontos valiosos perdidos por Lando Norris no Grande Prémio do Canadá.

Embora a história mostre que é imprudente permitir que companheiros de equipa lutem entre si por vitórias e títulos de pilotos, uma lição que a McLaren aprendeu notoriamente com Alain Prost e Ayrton Senna em 1989 e 1990, a atual direção da equipa acredita na sua abordagem.

Eis três pontos importantes que saíram do Grande Prémio do Canadá de domingo, corrida vencida por George Russell (Mercedes), à frente de Max Verstappen (Red Bull), o que alterou o panorama do campeonato:

1. Conflito interno na McLaren na procura da glória

As reuniões desta semana em Woking deverão ser difíceis, após o acidente na volta 67 no Circuito Gilles Villeneuve, quando Norris colidiu acidentalmente com o seu colega de equipa Oscar Piastri. No entanto, é pouco provável que isso evite novos confrontos entre os dois nas próximas corridas, começando já na Áustria.

Piastri, que terminou em quarto lugar e aumentou a vantagem sobre Norris no campeonato para 22 pontos, voltou a demonstrar frieza e pragmatismo, enquanto o seu colega cometeu um erro de julgamento e saiu da corrida sem pontos.

“Fiz figura de parvo”, admitiu Norris. O australiano aceitou o pedido de desculpas. O chefe de equipa, Andrea Stella, exigiu uma análise e discussão sobre regras claras de conduta em pista.

"Boa sorte com isso!", foi a reação da maioria dos veteranos do paddock.

"Haverá boas conversas, mas só quando estivermos descansados e calmos. Ser livre para competir, mas com clareza sobre como fazê-lo, é um valor essencial das corridas", disse Stella, O chefe de equipa da McLaren.

Acrescentou ainda que pretende evitar controlar os seus pilotos em excesso a partir do muro das boxes.

“O que aconteceu hoje [domingo] não muda a nossa abordagem. No máximo, reforça os princípios que exigem mais cautela por parte dos nossos pilotos", acrescentou.

Uma chamada para antigos dirigentes da McLaren, como Ron Dennis ou Martin Whitmarsh, sobre como lidaram com Prost e Senna ou mais tarde com Fernando Alonso e Lewis Hamilton, talvez fosse útil.

"O Lando terá de mostrar o seu caráter para ultrapassar este episódio. Tem de garantir que retira apenas os ensinamentos necessários, apenas o que o tornará um piloto mais forte", apontou Stella.

Piastri, por outro lado, conta com cinco vitórias em dez corridas, um carro geralmente dominante e uma vantagem confortável.

Para Norris, mais episódios como o de domingo podem abrir caminho a outras equipas e pilotos, como Verstappen, Russell ou Leclerc, na luta pelos títulos de piloto e construtores

Apesar de não terem conseguido um pódio pela primeira vez este ano, a McLaren continua a liderar o campeonato de construtores com 175 pontos de vantagem sobre a Mercedes.

A falta de ritmo em Montreal revelou uma fraqueza que os rivais precisam de explorar, focando-se em atualizações e velocidade para as 14 corridas que faltam, em vez de desviar já a atenção para 2026.

2. Russell mostra maturidade e equilíbrio

Pode já ser tarde para este ano, mas a vitória serena de George Russell no Circuito Gilles Villeneuve e a sua postura geral sugerem que encontrou a maturidade necessária para construir uma verdadeira candidatura ao título.

Não deu qualquer hipótese ao tetracampeão Verstappen e conquistou a sua quarta vitória na carreira. Agora, o desafio da Mercedes é dar-lhe um carro capaz de vencer numa variedade mais ampla de circuitos.

O protesto falhado da Red Bull contra Russell na noite de domingo, por alegada condução irregular atrás do Safety Car, cheirou a desespero, perante a impotência demonstrada durante a corrida.

3. Crise na Ferrari é de origem interna

A chegada de Lewis Hamilton à Ferrari este ano coincidiu com um carro pouco competitivo.

Tanto Hamilton como Charles Leclerc saíram desiludidos de mais um fim de semana marcado por rumores de "crise" em Maranello e palavras duras.

Leclerc assumiu a culpa após terminar em quinto. Hamilton, por sua vez, lutou com bravura até ao sexto lugar, depois de embater numa marmota que causou danos no fundo-plano do seu carro..

A equipa fechou-se, reconhecendo que os problemas são internos e que será preciso tempo para os resolver.

"Um tempo longo", nas palavras de Hamilton, que, com sete títulos mundiais, já identificou áreas que necessitam de mudanças estruturais e de uma melhoria na relação com a imprensa italiana.