Miguel Oliveira reconhece a supremacia da Ducati no Campeonato do Mundo de MotoGP, mas assegurou hoje que a Aprilia tem capacidade para bater a rival compatriota, vencedora dos últimos dois campeonatos de construtores.

A história dos mundiais começou por ser dominada por marcas italianas, casos da Gilera e da MV Augusta, depois das exceções das britânicas AJS e Norton, até ao reinado japonês imposto por Yamaha, Suzuki e, sobretudo, Honda (para um total de 46 triunfos).

A Ducati também se intrometeu na luta, em 2007, para se tornar dominante, em 2022, à boleia dos triunfos individuais do italiano Francesco Bagnaia e de oito das 22 motas da grelha, o que faz desta a mais representada no pelotão. Algo que o único piloto português a disputar a categoria máxima do motociclismo de velocidade espera combater.

“Eu acho que a ideia de vedar a Ducati de testar já é um ponto de partida para quebrar esse domínio. Acredito também que poderá ajudar se, no futuro, algum construtor se atrever a comprar uma ou outra equipa com motas Ducati, para diminuir um bocadinho o número de motas deles, porque é altamente vantajoso ao nível de dados e afinações, sobretudo quando o ‘Pecco’ [Bagnaia] tem de ganhar ao domingo”, referiu.

Em entrevista à agência Lusa, à margem de um encontro com os seus fãs, em Lisboa, Miguel Oliveira foi inequívoco na ambição da Aprilia, que tal como Honda e KTM detém quatro motas na grelha de partida – a Yamaha só equipa duas –, metade das da Ducati.

“Nós, como Aprilia, obviamente, queremos ser um dos construtores que fazem frente a uma Ducati. Apesar de serem os líderes, vemo-nos com capacidade para os vencer”, sublinhou.

Na sua sexta temporada no MotoGP, depois da falência da RNF, o português alinha na Trackhouse Racing, propriedade de um grupo norte-americano fundado há dois anos pelo antigo piloto Justin Marks, com o apoio do rapper Pitbull, e detentora de uma equipa na NASCAR.

“O mundo que transita da NASCAR para o MotoGP é completamente diferente. A NASCAR tem uma dimensão gigantesca nos Estados Unidos e o MotoGP uma dimensão internacional. Acho que é cedo para perceber o impacto dessa gestão norte-americana na equipa e no MotoGP e qual o impacto do MotoGP no público norte-americano. Para já, a experiência de ter um ex-piloto na equipa de que é proprietário é muito boa, porque entende na perfeição as nossas necessidades e todos estão na busca de alta performance, seja individualmente ou como equipa. É muito importante sentirmo-nos apoiados para podermos fazer o nosso trabalho com tranquilidade”, assegurou.

Após a primeira corrida da temporada, no Qatar, onde Miguel Oliveira conquistou um ponto, com o 15.º lugar, o piloto identificou algumas melhorias a fazer na sua mota.

“Tivemos uma mudança significativa na nossa mota. O conceito de aerodinâmica, apesar de parecer o mesmo, é muito diferente, temos muita carga aerodinâmica nesta mota e, obviamente, temos de jogar bem com essa carga, e a mota, simplesmente, ainda não está bem afinada. Conseguimos competir e pilotar, o Aleix [Espargaró, que foi oitavo], com o seu estilo de pilotagem, conseguiu colmatar algumas das coisas que a mota não faz tão bem, mas, como se viu, na corrida, as dificuldades são mais apreciáveis a olho nu”, referiu.

E o desafio, agora, passa por melhorar o desempenho da mota, para lutar pelos primeiros lugares.

“A nossa mota precisa de alguma performance e só depois podemos trabalhar na consistência, não queremos ser consistentemente fracos”, vincou.

Antevendo a próxima corrida, o Grande Prémio de Portugal, no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), entre 22 e 24 de março, o português, de 29 anos, assumiu-se confiante: “Em Portimão acredito que podemos lutar por melhores resultados”.

Depois de um ano ‘negro’, sem vitórias, com vários abandonos e algumas lesões, e após sete subidas aos pódios do MotoGP, cinco das quais ao lugar mais alto, Miguel Oliveira assegura a sua ambição, sem mais pressão do que a que impõe a si próprio.

“Jamais me sentiria pressionado a fazer um resultado por a equipa ser norte-americana ou por ser o piloto esperado para fazer resultados. Não haverá ninguém no ‘paddock’ ou qualquer fã que queira fazer melhor resultado do que eu, por isso, jamais sentirei isso”, assegurou.

Miguel Oliveira cumpre a sexta temporada no MotoGP, categoria na qual se estreou em 2019, depois de oito anos nas categorias inferiores, em que conseguiu ser vice-campeão em 2015, em Moto3, e 2018, em Moto2.