"Nós achamos que é necessário que seja consentido um momento, no curto prazo, em que a economia - por causa dos efeitos da política monetária - possa estar a sangrar, digamos assim, mas para um bem maior", referiu, num encontro com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

"Nós estamos a lutar para que, depois, o efeito seja uma redução da inflação em que todos os agentes económicos que estão a operar no mercado possam tirar benefício disso, incluindo as famílias", acrescentou.

Questionada sobre se já teria sido alcançado o pico das medidas de política monetária, Silvina Abreu não se comprometeu com uma resposta.

Em causa está o aumento das reservas obrigatórias que os bancos comerciais têm de manter junto do banco central: o regulador decidiu na quarta-feira subir os coeficientes para 39% dos passivos (caso dos depósitos) em moeda nacional e 39,5% no caso de moeda estrangeira.

Foi a segunda subida do ano, sendo que no início de 2023 eram de 10,5% e 11,% respetivamente.

A inflação homóloga em Moçambique desacelerou em abril para 9,6%, o valor mais baixo em 12 meses.

O BM justificou a ação "visando absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária", mas os empresários acham que a decisão vai tornar ainda mais caro contrair financiamento bancário, essencial numa economia de pequenas e médias empresas, que vão ter mais dificuldades.

"Antevemos muitas dificuldades para que [as empresas] possam crescer, prosperar e gerar valor para a economia", referiu Oldemiro Belchior, vice-presidente do pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA, no encontro de hoje.

O aumento das reservas obrigatórias vai levar a um aumento das taxas de juro e o serviço da dívida "vai agravar-se, não só para quem procura crédito, como também para quem já beneficia".

"As empresas vão ressentir-se" com o "aumento expressivo" das reservas obrigatórias, disse.

João Figueiredo, presidente da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique e com carreira feita na banca moçambicana, disse que "vai haver um agravamento das taxas de juro e uma penalização para toda a economia", incluindo grandes empresas e famílias.

"Todos vamos pagar as consequências desta política obstinada quanto à inflação", acrescentou.

Apesar de admitir que pode haver uma pressão a curto prazo, Silvina Abreu recusa a ideia de ver a política monetária como causa eminente de falta de crédito à economia.

"Não gostaria que se dissesse que é por esta razão que não se vai dar crédito à economia, porque já houve outros momentos de inflação mais baixa e também não estava a haver um encaminhamento [de crédito] pelo setor bancário para a economia", considerou.

"Haverá outros fatores que podíamos depois, com calma, verificar, que levam a que a economia não esteja a ser priorizada em termos de crédito", disse.

A administradora sugeriu que a banca use formas mais "criativas" de viabilizar o financiamento à economia.

"Nós estamos a fazer a nossa parte", como banco central, referiu, caso contrário poderia ser acusado de "não fazer esse papel e ter a inflação a crescer acima do desejável".

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