
Oren Rozenblat falava à agência Lusa à margem da Conferência sobre Cibersegurança, organizada pela embaixada de Israel em Lisboa e em que participaram 12 empresas ligadas ao setor e mais de duas dezenas de companhias e entidades oficiais com o objetivo de aproximar os dois países no combate ao cibercrime e quais as ferramentas à disposição.
"Acho que a principal causa foi culpa nossa. Às vezes, pensamos que temos os nossos valores e que são semelhantes aos europeus ou aos portugueses. Às vezes, pensamos que as outras pessoas pensam como nós. Achamos que a coisa mais importante para nós é a educação, a saúde, a economia, para ajudar nossos filhos a terem uma vida melhor. E nós pensamos que outras nações pensam o mesmo", afirmou o diplomata israelita.
"Mas há uma organização como o Hamas, que controla a Faixa de Gaza. E eles não pensam assim. Acham que há coisas mais importantes do que ajudar os filhos, do que a economia. E, para eles, a coisa mais importante é matar israelitas", acrescentou.
Rosenblat admitiu que Israel "estava a dormir" na altura dos ataques do Hamas, que provocaram pelo menos 1.200 mortos e permitiu o sequestro de cerca de 250 israelitas.
"E nós estávamos dormindo. Especialmente pensando que outras pessoas deveriam pensar como nós. Eles, não. Eles têm princípios de religião extremos. Sacrificar as suas vidas para destruir Israel é mais importante do que os filhos. E esse foi o nosso erro", referiu.
No entanto, o embaixador israelita em Lisboa, associando o tema da guerra às tecnologias de informação, salientou os avanços tecnológicos que permitiram o ataque "cirúrgico" em 'pagers' de dirigentes não só do Hamas, na Faixa de Gaza, como também do Hezbollah, no Líbano.
"Aconteceu apenas com os 'pagers'. Acho que este é um exemplo da forma inovadora de fazer guerras. Foi uma operação muito específica contra os líderes e agentes das organizações do Hezbollah", sublinhou.
"Nós pudemos atacá-los com precisão, sem nenhum dano para pessoas que não eram terroristas. E isso foi um sucesso enorme e levou à nossa vitória contra o Hezbollah e ao facto de que o Líbano estar agora livre da ditadura do Hezbollah. E também a Síria está livre da ditadura do regime de [ex-Presidente, Bashar] al-Assad. E tudo por causa dessa inovação", sustentou.
Rosenblat afirmou que Israel "está sempre a ser ameaçado" com ciberataques.
"Temos os nossos inimigos e eles estão a tentar atingir-nos. E é por isso que temos que estar sempre prontos para desenvolver o 'software' certo para bloquear esses ataques. E isso levou ao nosso sucesso na área da cibersegurança", justificou.
O embaixador israelita em Lisboa frisou que não se trata de uma "nova era" em tempos de guerra, uma vez que já existe há décadas, razão da aposta de Israel na inovação e desenvolvimento tecnológico, área em que o país é "bom".
Segundo Rosenblat, os ciberataques podem parar completamente os sistemas operacionais, como os associados à saúde, à energia ou às telecomunicações.
"Não sou especialista na situação em Portugal sobre a cibersegurança. Estamos a tentar construir uma cooperação para aprender um com o outro. Eu conheci muitos dos gestores das grandes empresas de infraestruturas em Portugal antes do evento para aprender sobre a situação no país. Fiquei impressionado com o alto nível alto dessas empresas, pelo alto nível de sua preparação para a cibersegurança. Mas, como sempre, é necessário preparar melhoras", explicou.
A Lusa tentou falar com o responsável do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), mas Lino Santos escusou-se a fazer quaisquer comentários sobre a conferência que reúne uma dúzia de empresas israelitas do setor com mais de duas dezenas empresas portuguesas estatais e privadas.
Na lista de empresas e entidades portuguesas presentes na conferência, cujo local de realização só era indicado após a respetiva inscrição para o evento, figuram, entre outros, nomes como a ANA -- Aeroportos, CTT, REN, EDP, E-Redes, Águas de Portugal (AdP), Galp, Jerónimo Martins, Metropolitano, Caixa Geral de Depósitos, Polícia de Segurança Pública (PSP) ou Marinha.
JSD // APN
Lusa/Fim
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