
"Temos apenas uma paz militar, porque, apesar das armas se terem calado, nós continuamos a ter tensões no seio da sociedade, tensões que não permitem a tranquilidade que os cidadãos deveriam ter", disse Samakuva.
Em declarações à margem de uma palestra a que presidiu, em Luanda, o político da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição) lamentou a fome e pobreza, "que se agravam diariamente no seio das famílias", considerando que o país carece de paz social.
"Temos tensões entre diversos grupos, entre diversos partidos e diversas áreas do nosso país, e o que nos falta é a paz social, continuamos a ter muitos problemas, o cidadão continua a sofrer demasiado", lamentou.
Angola assinalou em 04 de abril o 23.º aniversário da paz e reconciliação nacional, alcançadas com o fim do conflito armado em 2002, e comemora o seu 50.º aniversário da independência em 11 de novembro.
Isaías Samakuva considerou, por outro lado, que os 23 anos de paz não têm reflexos na vida dos cidadãos e pediu reflexão profunda sobre os 50 anos de independência do país, conquistada "com muito sacrifício".
"A independência é um bem que nós conquistámos com muito sacrifício e aquilo que esperávamos que nos trouxesse, que é a facilidade e prosperidade e bem-estar, esta não temos, então, temos de fazer uma reflexão profunda", frisou.
Sakamuva, que entre 2003 e 2019 liderou a UNITA, insistiu que Angola precisa de paz social: "Temos pessoas que não têm o pequeno-almoço, outras nem sabem o que comer amanhã, é preciso mudar o quadro".
O atual presidente da Fundação Jonas Savimbi lamentou ainda que o país não tenha alcançado uma "efetiva reconciliação" entre os angolanos, que hoje "ainda são avaliados em função da cor partidária".
"Precisamos de olhar um a outro como irmão, continuamos a olhar para nós ainda na base da cor dos partidos", notou.
"O papel das universidades no processo da preservação da paz e da reconciliação nacional" foi o tema da comunicação de Isaías Samakuva na palestra que decorreu no Instituto Superior Politécnico do Bita, na capital angolana.
Na intervenção considerou que a paz verdadeira exige justiça social, diálogo, inclusão, respeito pelos direitos humanos e "não se limita com o calar das armas", e defendeu que a reconciliação se traduz no respeito pela memória histórica, perdão e combate das desigualdades sociais.
As universidades, observou, são instrumentos de transformação social que não devem preparar os cidadãos apenas para o mercado de trabalho, mas interessados no bem comum.
Finalmente, enumerou ainda a escassez de recursos humanos, as desigualdades no acesso ao ensino superior, a carência de financiamento para a pesquisa e investigação científica e a fragilidade na autonomia das instituições como alguns dos desafios estruturais e funcionais das universidades em Angola.
Isaías Samakuva desafiou mesmo a comunidade académica a abordar abertamente os desafios da paz e reconciliação no país, em debates com respeito e frontalidade, a aprofundar o percurso histórico do país para a consolidação da paz.
DAS // JMC
Lusa/Fim
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