Os escritórios da empresa sul-africana, junto às portagens de Maputo, foram atacados ao início da manhã, praticamente ao mesmo tempo que a via era bloqueada pelos manifestantes, que ao longo do dia foram recusando propostas de negociação, incluindo um perdão de dívidas aos transportadores, que estão na origem do bloqueio.
As instalações da TRAC, sem funcionários no interior, encontram-se sob vigilância da polícia, com um blindado da Unidade de Intervenção Rápida na porta, enquanto na N4, ao lado, agentes da UIR têm realizado disparos e lançado gás lacrimogéneo para travar novos bloqueios.
Os acessos da N4 junto à portagem de Maputo, que liga à vizinha cidade da Matola, estão completamente bloqueados por manifestantes, que contestam a cobrança de portagem, ameaçando com um camião cisterna com combustível, imobilizado junto a um posto de abastecimento.
O camião foi bloqueado depois das 07:00 locais (menos duas horas em Lisboa) pelos manifestantes, sobretudo transportadores, imobilizado na via e sob ameaça de ser incendiado caso a polícia force o desbloqueio da via. A situação mantinha-se inalterada mais de oito horas depois, com a polícia a evitar qualquer carga no local, apesar do forte aparato.
"Estamos a nos manifestar e estão a vir com gás lacrimogéneo e balas (...) estamos a deixar esse carro aí para nos defendermos (...) estamos cansados, estamos a pedir que resolvam", explicava Nucha Arminda, enquanto centenas caminhavam pela via, habitualmente congestionada pelo trânsito de entrada e saída de Maputo.
A cobrança de portagens naquela via, explorada pela sul-africana TRAC, ficou suspensa durante semanas, devido às manifestações pós-eleitorais em Moçambique, e foi retomada na passada quinta-feira.
"Não aceitamos portagens. Queremos ficar três meses sem pagar portagens e quando retomar que baixem os preços", afirmou Erisaldo Pedro, enquanto a polícia, a espaços, aproximava-se para tentar negociar com as dezenas de manifestantes a saída do camião e o desbloqueio da via, sem sucesso.
"Nós não queremos mais portagens. Essa portagem não existe", retorquia Sansão Basima, que se juntou ao protesto.
Desde que foi retomada cobrança de portagens na N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia, via estrutural para escoar as exportações sul-africanas de minério, que a circulação naquela via tem estado condicionada por alguns protestos e automobilistas que forçam as cancelas para passar sem pagar, o que levou a concessionária TRAC a instalar correntes junto às cabines de pagamento.
O então candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou em dezembro ao não pagamento de portagens em todo o país, sendo que, após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias foram fechadas, incluindo as da TRAC.
Entretanto, num documento publicado em 21 de janeiro, com 30 medidas que exige para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro, voltou a exigir a não cobrança de portagens em todo o país.
"Na N4 as portagens, pelo tempo de vida que já têm, cumpriram com tempo de rentabilidade face ao investimento efetuado", refere no documento, exigindo a extensão do não pagamento de portagens neste período, alegando, também, que em várias vias com portagens no país "não houve consulta pública" sobre essa cobrança e "não se respeitou o princípio da via alternativa".
PVJ // ANP
Lusa/Fim
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