Num artigo, divulgado este mês, a organização não-governamental timorense afirma que o poder está a ser exercido através de "conexões pessoais, hierarquias socioculturais tradicionais, credenciais históricas de resistência e sistemas de clientelismo".

"O 'status quo' levou a uma desilusão generalizada entre os jovens timorenses devido ao nepotismo sistémico no emprego e na educação, bem como a um crescente afastamento entre os cidadãos e os decisores políticos", salienta a Fundação Mahein (FM).

Por isso, a organização não-governamental insta os líderes timorenses a "implementarem as reformas necessárias", incluindo a sucessão política, e a melhorar as condições e vida e a reforçarem o Estado de Direito, para evitarem a instabilidade social e política.

"Hoje, os riscos são mais elevados do que nunca, dada a maior riqueza de Timor-Leste e o desespero de muitos cidadãos", sublinha.

Mais de 70% da população de Timor-Leste, com 1,3 milhões de habitantes, tem idade inferior a 35 anos e, segundo dados das Nações Unidas, mais de 30% dos jovens estão desempregados.

"As oportunidades em Timor-Leste dependem das ligações familiares e políticas, em vez de competências e qualificações" e cada vez mais os jovens timorenses procuram trabalho no estrangeiro, salienta a Fundação Mahein.

Aquela realidade, segundo a organização, reflete uma necessidade económica, mas também a falta de confiança.

"Quando os empregos, bolsas de estudo e contratos são sistematicamente distribuídos entre redes de elite, muitos veem a migração como o único caminho possível para alcançar prosperidade", considera a fundação.

Segundo a FM, o nepotismo e a informalidade estão enraizados nos processos administrativos mais básicos e a falta de responsabilização pela corrupção está a reforçar a perceção de impunidade e de que o Estado serve só os privilegiados.

"À medida que a geração mais velha se aproxima da reforma, a sua falha em cultivar novas lideranças coloca o país em risco de um perigoso vazio de poder", ao qual se junta uma população jovem "alienada e com baixo nível educativo", adverte.

Exemplo disso, segundo a organização não-governamental, é também o facto de 23 anos depois da restauração da independência, Timor-Leste continuar a "depender de assessores internacionais para muitas tarefas formais".

Considerando que o desenvolvimento da liderança está "estagnado", a Fundação Mahein afirma que Timor-Leste está a sofrer um paradoxo, com "abundância de políticos, mas com escassez de verdadeiros líderes".

"Timor-Leste encontra-se numa encruzilhada. As elites podem optar por facilitar reformas graduais ou enfrentar exigências crescentes de uma geração jovem cada vez mais frustrada. A escolha determinará a estabilidade e o futuro democrático do país", acrescenta a Fundação Mahein.

MSE // VM

Lusa/Fim