
"A demora na conclusão da investigação já começa a levantar preocupações sobre a seriedade com que a SAMIM [Missão Militar da África Austral em Moçambique] está a tratar do assunto", refere aquela ONG, em nota distribuída hoje à comunicação social.
O vídeo em que surgem alegados militares sul-africanos integrados na SAMIM a queimar corpos de supostos rebeldes na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, começou a circular nos primeiros dias de janeiro e, três meses depois, ainda não há resultados da investigação, observa o comunicado.
Aquela ONG critica o facto de o inquérito estar a ser realizado por uma comissão constituída pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), alertando para a falta de independência, dado que os visados são alegados membros da missão militar da organização.
O CDD nota que "desde que iniciou o conflito do tipo extremismo violento em Cabo Delgado, em outubro de 2017, nunca houve uma investigação séria dos vários casos reportados de violação de direitos humanos envolvendo as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique".
Na sequência da divulgação das imagens, o porta-voz da Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF), Andries Mokoena Mahapa, explicou em janeiro que o exército sul-africano "tomou recentemente conhecimento de um vídeo a circular nas redes sociais retratando membros em uniforme de uma Força de Defesa ainda não identificada a atirarem cadáveres para uma pilha de escombros a arder, bem como os elementos da SANDF [Força Nacional de Defesa da África do Sul] observando-os".
O vídeo foi duramente condenado por várias entidades, incluindo a Amnistia Internacional, que lembrou que a queima de cadáveres por forças armadas em zonas de conflito viola o direito humanitário internacional.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
PMA // JH
Lusa/Fim
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