Num relatório semestral, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) disseram que os conflitos e a violência armada são responsáveis pela maior parte da insegurança alimentar aguda nas regiões analisadas.

As condições meteorológicas extremas são um fator importante noutras regiões, enquanto a desigualdade económica e os elevados níveis de dívida em muitos países em desenvolvimento prejudicam a capacidade de resposta dos governos.

É necessária uma ação humanitária urgente para evitar a fome e a morte na Faixa de Gaza, no Sudão, no Sudão do Sul, no Haiti e no Mali, pediram a FAO e o PAM, segundo a agência francesa AFP.

"Na ausência de esforços humanitários imediatos e de uma ação internacional concertada para remediar as graves dificuldades de acesso e para reduzir o conflito e a insegurança, a fome e a perda de vidas humanas poderão agravar-se" nestas regiões, advertiram.

Nigéria, Chade, Iémen, Moçambique, Myanmar (antiga Birmânia), Síria e Líbano encontram-se igualmente numa situação muito preocupante.

O relatório conjunto, com base em investigações efetuadas por peritos das duas agências da ONU com sede em Roma, abrange o período de novembro de 2024 a maio de 2025.

O relatório centra-se nas "situações mais graves" e não representa "todos os países/territórios que registam níveis elevados de insegurança alimentar aguda", disseram os autores.

O ano de 2024 é o segundo consecutivo de diminuição do financiamento da ajuda humanitária e 12 planos de segurança alimentar enfrentaram quebras de financiamento superiores a 75% em países como a Etiópia, o Iémen, a Síria e Myanmar.

Os níveis de insegurança alimentar são medidos numa escala de 1 a 5, sendo que o último corresponde a uma situação de "catástrofe".

Na Faixa de Gaza, o recente recrudescimento das hostilidades entre palestinianos e israelitas faz temer que o cenário catastrófico da fome se possa tornar realidade, segundo as duas agências.

Em meados de outubro, 1,9 milhões de pessoas, correspondente a 91% da população de Gaza, estavam deslocadas.

No Sudão, centenas de milhares de pessoas deslocadas pelo conflito continuarão a enfrentar a fome.

No Sudão do Sul, o número de pessoas que enfrentam a fome e a morte já deverá quase ter duplicado entre abril e julho de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023.

Estes números poderão agravar-se a partir de maio de 2025, com o período que se segue e precede duas colheitas.

De acordo com a FAO e o PAM, mais de um milhão de pessoas foram afetadas por graves inundações em outubro no Sudão do Sul, um país cronicamente instável, assolado pela violência e pela estagnação económica.

A violência armada no Haiti, combinada com uma crise económica persistente e furacões, é suscetível de agravar os níveis de fome já críticos.

A escalada do conflito no Mali, onde a ONU retirou a missão de manutenção da paz em 2023, corre o risco de agravar os níveis já críticos, com grupos armados a imporem bloqueios nas estradas e a impedirem a entrega de ajuda humanitária.

Os efeitos diretos e indiretos dos conflitos na insegurança alimentar são consideráveis, segundo os autores do relatório, e vão muito além da destruição de gado e culturas.

Os conflitos obrigam as pessoas a fugir de casa, "perturbando os meios de subsistência e os rendimentos, limitando o acesso aos mercados e conduzindo a flutuações de preços e a uma produção e consumo irregulares de alimentos".

Em algumas regiões, as condições meteorológicas extremas causadas pelo possível reaparecimento, este inverno, do La Niña, um fenómeno climático natural que pode desencadear chuvas intensas ou agravar as secas e as vagas de calor, podem exacerbar as crises alimentares, segundo a FAO e o PAM.

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