"Não podemos continuar confrontados com os lucros milionários das grandes empresas de energia enquanto milhões de pessoas passam frio em casa, adoecem e morrem porque simplesmente não têm dinheiro para pagar os cada vez mais escandalosos preços da energia e dos combustíveis", afirmou Paulo Raimundo, que falava em Vila Real, no final da 10.ª Assembleia da Organização Regional do PCP.

No seu discurso dirigido aos militantes e simpatizantes comunistas, o dirigente defendeu que é "preciso acabar com este crime social e económico".

"Somos nós que temos direito ao aquecimento, não são eles que têm direito ao lucro desenfreado", sustentou, num território onde, durante o inverno, as temperaturas descem acentuadamente e o aquecimento das casas é um problema.

Depois, em declarações aos jornalistas, concretizou que é preciso "aplicar uma taxação sobre os lucros das empresas que são para lá daquilo que é razoável".

"Nós tivemos uma ameaça do Governo sobre isso, mas até agora ainda não se conseguiu perceber muito bem como é que vai funcionar e é, exatamente nesse sentido, que nós achamos que é preciso ir mais longe. Era preciso alargar a outros setores que não apenas à grande distribuição (...) Desta taxação extraordinária o Governo deixou o setor da energia de fora, não pode. Não pode a energia, nem pode a banca, por exemplo", realçou.

Paulo Raimundo especificou que o PCP defende "uma alteração à fórmula de taxação e aplicar sobre o conjunto dos lucros das empresas".

"Não é a partir de um determinado valor, porque tudo aquilo que se está a fazer do ponto de vista do ataque aos salários, não se faz sobre parte dos salários, faz-se sobre os salários todos. Não há nenhuma razão para fazer uma gestão diferente no que diz respeito ao lucros", explicou.

O dirigente comunista deu ainda como exemplo o lucro "assustador" da EDP de "690 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano".

"E depois há pessoas que são confrontadas com a opção de ter que poupar no aquecimento das casas por não terem dinheiro para pagar a conta da luz ou do gás", apontou.

Paulo Raimundo apelou ainda à mobilização em torno do PCP e da luta "pela regionalização", em vez de "se transferir para as autarquias locais competências que estas não só não estão em condições de assegurar e põe em causa a universalidade de acesso a funções sociais do Estado, a educação, a saúde, entre outros".

Preocupado com a crise demográfica que afeta o país, Paulo Raimundo disse que Vila Real é um "exemplo claro disto, um retrato de desertificação galopante do Interior".

O distrito perdeu população em todos os seus concelhos, quase 21 mil residentes face a 2011, uma perda de 10%.

"Gostaria de deixar aqui bem claro que não contarão com o PCP para o discurso de que o Interior está condenado. Não damos para esse peditório, não desistimos do Interior assim como não desistimos do país. Mas esta opção obriga a opções diferentes, exige coragem e medidas concretas, isto não vai lá com conversa e muito menos com hipocrisia", frisou.

E, acrescentou, "não vai lá seguramente com o encerramento de serviços públicos, de perda de capacidade produtiva, cortes nos apoios à agricultura familiar, de encerramento de escolas, postos da GNR, estações e postos dos CTT, redução e eliminação de carreiras rodoviárias, falta de investimento na ferrovia".

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