"A falta de um verdadeiro sistema de drenagem e a exploração de zonas impróprias estão entre os principais motivos destas inundações", declarou Manasse Chauque, residente do Bairro Ferroviário, que esteve entre os aglomerados mais afetados pelas inundações na presente época chuvosa em Maputo.

Em causa estão as cíclicas inundações que afetam diversos bairros da capital moçambicana, incluindo o centro da cidade, durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e março em Moçambique.

Para Chauque, a definição de uma nova estratégia de gestão de saneamento, que inclua a reabilitação constante do sistema instalado no período colonial no centro da cidade, é a condição para a resolução do problema.

A construção desordenada em bairros em expansão e a edificação de moradias na zona do mangal (Costa do Sol) deixa a situação muito mais crítica, frisou Manasse Chauque.

"Quando há precipitação as estradas todas ficam alagadas. No caso dos nossos bairros, a situação é muito pior: é quase impossível conduzir ou andar", afirmou o jovem atleta de 31 anos.

Para Aurélio Nhantumbo, outro munícipe da capital, o mais preocupante é o facto de ser um problema que há anos não encontra soluções.

"O que me preocupa é o facto de ser um problema que registamos em todos os anos. Nós já sabemos que quando chove a Avenida 25 de Setembro [uma das principais do centro da capital] vai estar alagada. Entretanto, nunca chegamos a uma solução", declarou o jovem estudante.

"Todos os anos planeamos e pedimos doações, mas nunca realmente chegamos a uma solução para o problema. Ano após ano, o cenário é o mesmo", acrescentou Aurélio Nhantumbo.

Também Eugénio Mondlane, 31 anos, considerou que a deficiente gestão do saneamento está entre as principais causas do problema, o que gera um "caos" para os residentes da capital moçambicana.

"Quando chove, além dos charcos que existem em quase todas zonas, as nossas casas também são afetadas. Sabemos que os muros vão cair", declarou Eugénio Mondlane, lembrando que a maior parte das estradas está degradada, o que em tempos de chuva torna a situação muito mais "caótica".

Em Moçambique, a ocorrência de inundações é recorrente nesta altura do ano, mas, ainda assim, a pluviosidade tem estado acima do esperado: só na semana de 06 a 12 de fevereiro choveu quase o triplo da média dos meses de fevereiro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inam).

A região sul de Moçambique, nomeadamente Maputo e arredores, foram atingidas por chuva intensa e cheias neste período, provocando 11 mortes, causando prejuízos a 43.500 pessoas e deixando várias infraestruturas públicas danificadas.

Entre outubro e abril, Moçambique é ciclicamente atingido por cheias, fenómeno justificado pela sua localização geográfica, sujeita à passagem de tempestades e, ao mesmo tempo, a jusante da maioria das bacias hidrográficas da África Austral.

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