"Esse cidadão até agora não reconheceu a sua derrota, continua incentivando os ativistas fascistas que estão na rua se movimentando", acusou Luiz InácioLula da Silva durante o evento que marcou o fim dos trabalhos da equipa de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.

O Presidente eleito brasileiro criticou ainda o facto de Jair Bolsonaro ter aberto as portas, na segunda-feira, do jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial do chede de Estado, aos manifestantes 'bolsonaristas' que apelam a uma intervenção militar e que se recusam a reconhecer a derrota eleitoral.

"Não sei qual foi o estrago que foi feito. Ele tem que saber que aquilo é um património público, não é dele, não é da mulher dele, não é do partido dele. Aquilo é do povo brasileiro que a gente tem que tratar com um carinho excecional", afirmou.

Lula da Silva, que tomará posse em 01 de janeiro de 2023, disse ainda que muitos destes manifestantes "fazem parte de uma organização de extrema-direita que não existe só no Brasil".

Apoiantes do ainda Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tentaram invadir na segunda-feira à noite a sede da Polícia Federal, em Brasília e destruíram e queimaram vários veículos, perto do hotel onde Lula da Silva está hospedado, na sequência da detenção de um manifestante.

A polícia disparou balas de borracha e lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes que recusam reconhecer a vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais e bloquearam algumas das principais vias de Brasília. Devido aos bloqueios várias pessoas ficaram retidas dentro de um dos maiores centros comerciais da capital brasileira, noticiou a imprensa local.

Os distúrbios surgiram na sequência da detenção de um indígena identificado como José Acácio Tserere Xavante, por decisão do Supremo Tribunal Federal, por ter participado em manifestações antidemocráticas.

Desde a segunda volta das presidenciais, em 30 de outubro, milhares de apoiantes de Bolsonaro saíram à rua para protestar contra o resultado das eleições e exigir "a intervenção" dos militares para impedir a tomada de posse de Lula da Silva.

À frente do quartel-general do exército, em Brasília, está concentrada a maior manifestação de 'bolsonaristas', que criaram uma autêntica 'cidade paralela', a partir da qual exigem uma intervenção militar para revogar o resultado eleitoral.

Montado há mais de um mês, na noite da vitória de Lula da Silva nas presidenciais, o acampamento, com tendas a perder de vista, tem evoluído e transformou-se numa pequena cidade, cuja missão é impedir a tomada de posse de Lula da Silva a 01 de janeiro.

No meio do acampamento existe a 'rua da restauração', onde se encontra um pouco de tudo, desde açaí, pastéis, queijo da canastra e churrasco, entre outras iguarias da culinária brasileira.

Mas não só: dezenas de casas de banho encontram-se espalhadas pelo acampamento, que ainda tem 'lojas' para os mais variados gostos, de forma a que nada falte aos autodenominados patriotas. Cabeleireiros, lojas de roupa onde se vendem camisolas da seleção canarinha, mas também camuflados, lojas de brinquedos, 'igrejas' católicas e evangélicas e até uma cantina para os mais carenciados.

Patrulhas, muitas das quais em camuflados, andam pelas ruas da 'cidade' para controlarem e garantirem a ordem.

Na segunda-feira, milhares de apoiantes de Bolsonaro concentraram-se, no jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado do Brasil, naquele que consideraram ser "o dia D" para impedir que Lula da Silva tome posse.

A poucos quilómetros de distância decorria a cerimónia no TSE, durante a qual Lula da Silva e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, receberam os diplomas que confirmam a vitória nas eleições presidenciais de outubro e os tornam aptos para assumirem os respetivos mandatos em 01 de janeiro de 2023.

Jair Bolsonaro encontrou-se com os manifestantes junto ao Palácio da Alvorada, acompanhado por um padre que pregou aos apoiantes.

 

MIM // VM 

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